quarta-feira, 31 de outubro de 2012


terça-feira, 30 de outubro de 2012





Pedagogia do Oprimido?



Um herói nacional absolutamente inconteste é o educador Paulo Freire, autor de "A Pedagogia do Oprimido" e inventor de um método revolucionário de alfabetização de adultos. Espécie de Santos Dumont às avessas, aquele que efetivamente inventou o avião, mas que nunca foi reconhecido fora do país, Paulo Freire sempre gozou de entusiástico reconhecimento internacional, embora nunca tenha feito rigorosamente coisa alguma. Passados tantos anos, não tenho conhecimento de um único lugar no planeta onde o método Paulo Freire tenha sido experimentado em larga escala e tenha efetivamente alcançado os resultados que propugnava. É certo que por aqui ele foi impedido de aplicar seu método, mas isto não é desculpa. Esteve em vários outros lugares, na América Latina e na África, e que eu saiba o analfabetismo continua alto nestas paragens. Culpa de quem? Dele com certeza não há de ser, a julgar pela popularidade que desfruta. Sua figura barbuda e monástica sempre foi bem-vinda nos palanques das mais prestigiosas universidades do mundo, talvez porque ele encarne tudo aquilo que o primeiro mundo acha que um intelectual de terceiro mundo deve ser: barbudo, monástico, que diz coisas que fazem os olhos lacrimejar, mas sem nenhuma coerência lógica ou utilidade prática. Dizer coisa com coisa? Que atrevimento! O rigor científico e a eficácia dos métodos são coisas que o primeiro mundo acha que devem ser exclusivas do primeiro mundo.

Mas convém aqui dar uma examinada em suas teorias, para tentar, ao menos, descobrir porque tanta gente as considera bonitinhas. As citações que reproduzo abaixo podem ser encontradas em qualquer biografia de Paulo Freire.

"Paulo Freire é, sem dúvida alguma, um educador humanista e militante. Em concepção de educação parte-se sempre de um contexto concreto para responder a esse contexto. Em Educação como prática da liberdade, esse contexto é o processo de desenvolvimento econômico e o movimento de superação da cultura colonial nas 'sociedades em trânsito'. O autor procura mostrar, nessas sociedades, qual é o papel da educação, do ponto de vista do oprimido, na construção de uma sociedade democrática ou 'sociedade aberta'. Para ele, essa sociedade não pode ser construída pelas elites porque elas são incapazes de oferecer as bases de uma política de reformas. Essa nova sociedade só poderá se constituir como resultado da luta das massas populares, as únicas capazes de operar tal mudança"



"O diálogo proposto pelas elites é vertical, forma o educando-massa, impossibilitando-o de se manifestar"

De cara se reconhece a dicotomia que é a pedra angular da retórica marxista: colonizador X colonizado, oprimido X opressor, elite X massa. Ou colocando em outras palavras, nós X eles, inocentes X culpados, bons X maus. Não há categorias intermediárias. Ao enunciar a "educação como prática de liberdade", fica implícito que a educação (ou deseducação) proporcionada pelas elites é responsável por manter o "oprimido" em seu estado de alienação, impedido de se manifestar.

"Sua obra Pedagogia do oprimido completaria suas concepções pedagógicas acerca das diferenças entre a pedagogia do colonizador e a pedagogia do oprimido. Nela, sua ótica de classe aparece mais nitidamente: a pedagogia burguesa do colonizador seria a pedagogia 'bancária'. A consciência do oprimido, diz ele, encontra-se 'imersa' no mundo preparado pelo opressor; daí existir uma dualidade que envolve a consciência do oprimido: de um lado, essa aderência ao opressor, essa 'hospedagem' da consciência do dominador - seus valores, sua ideologia, seus interesses - e o medo de ser livre e, de outro, o desejo e a necessidade de libertar-se. Trava-se, assim, no oprimido, uma luta interna que precisa deixar de ser individual para se transformar em luta coletiva: 'ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão'"

Afirma Paulo Freire, a pedagogia "burguesa" maliciosamente traria uma mensagem subliminar exortando o educando (o "oprimido") a se conformar com o seu estado de opressão (hospedar o opressor dentro de si). A educação "libertadora" o levaria a rebelar-se contra o opressor.

"A partir da tese sobre a relação entre a educação e o processo de humanização, Paulo Freire caracteriza duas concepções opostas de educação: a concepção 'bancária' e a concepção 'problematizadora'"



"Na concepção bancária (burguesa), o educador é o que sabe e os educandos, os que não sabem; o educador é o que pensa e os educandos, os pensados; o educador é o que diz a palavra e os educandos, os que escutam docilmente; o educador é o que opta e prescreve sua opção e os educandos, os que seguem a prescrição; o educador escolhe o conteúdo programático e os educandos jamais são ouvidos nessa escolha e se acomodam a ela; o educador identifica a autoridade funcional, que lhe compete, com a autoridade do saber, que se antagoniza com a liberdade dos educandos, pois os educandos devem se adaptar às determinações do educador; e, finalmente, o educador é o sujeito do processo, enquanto os educandos são meros objetos" "A educação bancária tem por finalidade manter a divisão entre os que sabem e os que não sabem, entre os oprimidos e opressores. Ela nega a dialogicidade, ao passo que a educação problematizadora funda-se justamente na relação dialógico-dialética entre educador e educando; ambos aprendem juntos"

Paulo Freire define como "bancária" a pedagogia burguesa, comparando os educandos a meros depositários de uma bagagem de conhecimentos que deve ser assimilada sem discussão. Paradoxalmente, esta modalidade de educação teria como objetivo não equalizar os conhecimentos entre educador e educando, mas sim "manter a divisão entre os que sabem e os que não sabem, entre os oprimidos e os opressores". O educador é necessariamente um opressor.

"A partir dessa sua prática, criou o método, que o tornaria conhecido no mundo, fundado no princípio de que o processo educacional deve partir da realidade que cerca o educando. Não basta saber ler que 'Éva viu a uva', diz ele. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho."

Para Paulo Freire, o alto índice de analfabetismo que caracteriza as regiões rurais miseráveis não seria parte de uma síndrome de pobreza e atraso, mas uma condição deliberadamente imposta pelas elites para manter o povo em um estado de ignorância, e desta forma eternizar seu domínio sobre ele. Cumpre esclarecê-lo sobre a sua situação de "oprimido" e a causa desta "opressão". A educação só terá valor se conduzir os educandos coletivamente à rebelião contra este estado de coisas.

Isto tudo é uma mistificação tão óbvia que a vontade é parar por aqui mesmo, já que a fragilidade dos argumentos e a real intenção pragmática destes "educadores" fica patente a qualquer um que não queira ser enganado por sua livre e espontânea vontade. Mas já que comecei, disponho-me a apontar uma a uma as contradições e as distorções da teoria e do método Paulo Freire.

A primeira falha que aponto é a ausência de uma definição explícita de "oprimido" e "opressor", termos que Freire emprega desde a primeira linha, mas cujo sentido só é percebido pelo contexto: o oprimido é o pobre analfabeto, aquele que deve ser educado, e o opressor é, por exclusão, todos os demais. Entretanto, sabe-se que a palavra "pobre" é mais usada como substantivo do que como adjetivo, designando um status permanente, enquanto "oprimido" é um adjetivo que expressa uma situação ocasional de opressão. Ao tornar um substantivo sinônimo de um adjetivo, Freire está afirmando que é a opressão que causa a pobreza. O pobre (substantivo) é pobre (adjetivo) porque é oprimido; não fosse oprimido ele não seria pobre. O estado natural da humanidade supostamente seria o da abastança; é a "opressão" que cria o pobre. Eliminando-se a opressão, todos retornariam a este estado natural feliz de abastança. Mas que fatos e números comprovam esta tese? Toda pobreza é resultado da opressão? Ou existe pobreza causada por fatores puramente estruturais, como a insuficiência dos meios de produção? Os ricos também podem sofrer opressão, e os pobres também podem ser de algum modo opressores? Estas questões não são respondidas. E se, após eliminar-se a "opressão" mediante uma revolução, ainda assim o quadro de miséria persistir, desta vez por mera insuficiência dos meios de produção? Teria-se que decidir se o papel de "opressor" agora cabe ao subsolo, que não produziu minérios, à nuvem que não choveu em cima da plantação, ou à constante gravitacional G, que é pequena e não permite que a usina gere muita eletricidade...

Logo de saída, há uma enorme contradição na argumentação de Freire. Ele afirma que o quadro de miséria e opressão é resultado da educação burguesa "bancária", que conteria uma mensagem subliminar incitando o povo a se submeter às elites. Mas se a massa de "oprimidos" é analfabeta, e por conseguinte nunca recebeu educação alguma, burguesa ou não, como pode ser estabelecida esta relação causa-efeito? Se a educação "bancária" é geradora de miséria e opressão, devemos concluir que, ao menos para aquele grupo de pobres analfabetos com quem Freire trabalhava, não foi ela a responsável por causar sua miséria, uma vez que eles nunca tiveram educação alguma. E os poucos que puderam freqüentar a escola e se tornaram objetos da educação burguesa, o que aconteceu com eles? Tornaram-se ainda mais pobres e conformados com sua situação de oprimidos? Dá vontade de imaginar uma professorinha primária do nordeste saindo de manhã cedo para trabalhar, percorrendo os caminhos a dar risadas sarcásticas, antegozando o resultado de seu projeto maquiavélico de transformar os filhos dos agricultores em adultos dóceis, e assim perenizar o poder da riquíssima oligarquia à qual ela pertence... Como uma professorinha que ganha um salário de poucos tostões pode ser considerada parte de uma elite, é questão que Freire não está preocupado em responder.

E além disso, de que modo uma mensagem relativamente complexa, que incita ao conformismo e afirma a legitimidade das autoridades, pode ser camuflada em meio ao bê-á-bá e ao 2+2=4? Uma mensagem assim só é concebível no ensino médio, em uma matéria como História, Moral e Cívica e OSPB, na qual um professor distorça fatos para afirmar a excelência dos governantes e a necessidade de se obedecer a eles. E de fato, diversos regimes totalitários em diferentes épocas já se utilizaram deste expediente para doutrinar a juventude. Mas um aluno que conseguiu atingir o ensino médio é alguém prestes a se formar e a se habilitar a um emprego, alguém que sabe ler jornais e noticiários, e desta forma tem condições de perceber quando o professor lhe ensina uma falsidade. Uma pessoa assim ainda pode ser considerada "oprimida"? A princípio, este rótulo só caberia ao camponês analfabeto miserável.

Freire taxa a educação burguesa de "bancária", reduzindo o aluno a mero depositário de ensinamentos, e propõe a educação "problematizadora" fundada na dialogicidade. "Na concepção bancária (burguesa), o educador é o que sabe, e os educandos, os que não sabem", afirma Paulo Freire. Ninguém definiu melhor o que é um professor e o que é um aluno. O professor é o profissional que sabe uma coisa que o aluno não sabe, e seu trabalho consiste justamente de passar-lhe este conhecimento, ou "depositar" este conhecimento no aluno, como preferir. A educação "bancária" é, simplesmente, o único tipo de educação que existe. Evidente que o professor não é o dono da verdade, e tudo aquilo que hoje é Ciência um dia já foi experiência e elucubração, produto do trabalho de alguém que era um ser humano falível, como eu e você. Assim sendo, toda matéria ensinada na escola necessariamente tem tópicos polêmicos e questões em aberto, e inclusive é obrigação do bom professor chamar a atenção de seus alunos para estes pontos e incitar a discussão e o debate em torno deles. Mas, como qualquer professor sabe, o debate só será proveitoso após os alunos haverem atingido um nível mínimo de aprendizado, que os permita, inclusive, compreender as falhas teóricas e práticas que tornam aqueles pontos discutíveis. Até este nível ser atingido, a educação é "bancária", e não pode ser diferente.

Freire afirma que a "libertação" através da educação só é válida se for um esforço coletivo: "Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão". Mas no entanto, é difícil conceber ato mais individual do que a descoberta. A descoberta ou o entendimento de um dado fato nunca é coletiva, pois os indivíduos tem percepções diferentes e interpretações diferentes: cada um tem a sua versão e o seu entendimento. Um professor cuja proposta não é ensinar, mas sim levar o aluno a um estado de "esclarecimento", na verdade comete um estelionato: ele está passando ao aluno um pacote de conclusões previamente tiradas, ao mesmo tempo que dá ao aluno a ilusão de que é ele mesmo que está tirando aquelas conclusões. A função (honesta) do professor é ministrar ensinamentos de forma neutra e não-tendenciosa, de modo que o aluno tenha condições de entender aquilo que observa a sua volta, e desta forma tirar suas próprias conclusões e chegar a seu próprio estado de esclarecimento. Mas, como bem o sabem os políticos de palanque, os pastores de certas igrejas evangélicas e os animadores de programas de auditório, a ignorância torna o indivíduo impressionável, e tendo-se um pouco de magnetismo pessoal, não há dificuldade alguma em colocar uma multidão de ignaros a berrar palavras-de-ordem, slogans religiosos ou simplesmente idiotices. Bem mais difícil é fazer isto com um grupo de pessoas cultas, pois estas pessoas, tendo sido objeto da educação burguesa "bancária", efetivamente se libertaram da ignorância que predispõe à manipulação. Freire e outros educadores marxistas vislumbraram uma oportunidade única de ministrar mensagens revolucionárias em larga escala, disfarçadas em uma educação "problematizadora" onde o assunto das aulas é a opressão dos latifundiários. Difícil conceber situação mais cômoda: aqueles indivíduos, sendo analfabetos miseráveis, eram rebeldes em potencial; eles nem precisavam ir ao encontro destes, estes é que vinham a seu encontro nas salas de aula; e para cúmulo, era o próprio governo que estava pagando para que eles preparassem a revolução! Como se sabe, as coisas não correram como eles planejavam, e Freire teve que se contentar em sair pelo mundo a comover as platéias internacionais com as suas boas intenções. O triste é saber que, na mesma época em que Freire urdia seus modelos teóricos sobre Educação, um outro povo também subdesenvolvido - os sul-coreanos - simplesmente pegavam no livro e estudavam, sem querer saber se a educação deveria ser "bancária" ou "problematizadora".
http://www.pedromundim.net/PedagOprim.htm




domingo, 28 de outubro de 2012


A classe baixa

Escrito por Walter Williams | 27 Outubro 2012
Artigos - Educação

O establishment educacional auxilia e instiga esse estado de ignorância bruta.

Anthony Daniels, que escreve sob o pseudônimo de Theodore Dalrymple, é um já aposentado médico e psiquiatra do sistema prisional que conta suas experiências com seus pacientes em "Life at the Bottom" É um livro perspicaz de ensaios sobre o comportamento autodestrutivo e atitudes da classe baixa.

Em um ensaio – "We don’t want no education" (Não queremos educação alguma) – reeditado pela City Journal (
http://www.city-journal.org/html/5_1_oh_to_be.html), Dalrymple diz que ele não consegue se lembrar de ter encontrado alguém com 16 anos, do antigo do projeto de moradia pública perto de seu hospital, que pudesse realizar operações de multiplicação simples, como nove vezes sete. Um de 17 anos de idade disse-lhe: "Nós não chegamos a esse ponto." Isso depois de 12 anos de frequência à escola. Uma das pacientes de Dalrymple tomou uma overdose de drogas por causa do constante bullying por parte de colegas de classe. "Ela era estúpida porque era inteligente". O que seus colegas queriam dizer era que qualquer um que trabalhasse duro e tivesse um bom desempenho na escola estava perdendo seu tempo quando gazetear aulas e vagar pelo centro eram consideradas atividades preferíveis. A ameaça subjacente era: se você não tomar jeito e se juntar a nós, vamos bater em você.

Estes não eram ameaças vãs. Dalrymple diz que muitas vezes encontrou em seu trabalho pessoas na casa dos 20 ou 30 anos que desistiram da escola sob tal coação. Aqueles que frequentam uma escola que tem padrões acadêmicos muito elevados arriscam-se a uma surra caso se aventurem em bairros onde a classe baixa vive. Ele se lembra de ter tratado dois rapazes no pronto socorro depois de terem sido espancados e outros dois que haviam tomado overdoses por medo de serem espancado nas mãos de seus vizinhos.

Dalrymple diz que a maioria dos jovens a quem ele conheceu em seu trabalho não podia citar um único escritor e nem recitar uma linha de poesia. Nenhum de seus jovens pacientes poderia dar as datas da Primeira Guerra Mundial, muito menos da Segunda Guerra Mundial. Alguns pacientes nunca ouviram falar dessas guerras, apesar de um de seus jovens pacientes, que tinha ouvido falar da Segunda Guerra Mundial, achasse que ela ocorrera no século 18. Neste clima de total ignorância, Dalrymple diz que ficou impressionado que o jovem tivesse ouvido falar do século 18.

O establishment educacional auxilia e instiga esse estado de ignorância bruta. Dalrymple conta sobre um caso em que o diretor permitia aos professores fazer apenas cinco correções por trabalho, independentemente do número real de erros presentes. Isto é feito de modo a não prejudicar a autoestima do aluno. Há muitos outros exemplos, mas Dalrymple conclui que "é extremamente difícil derrubar essas tendências educacionais (ou anti-educacionais)", porque "os professores e os professores dos professores das escolas normais estão profundamente imbuídos dos tipos de ideias educacionais que nos trouxeram a este ponto".

O leitor pode ter sido induzido em erro, com a minha ajuda, em pensar que "We don’t want no education" é sobre a classe baixa negra, mas é sobre a classe baixa branca na Grã-Bretanha. Nós não podemos usar o racismo branco e o legado da escravidão – tão freqüentemente utilizados para analisar a classe baixa negra – para explicar a classe baixa da Grã-Bretanha. O estado do bem-estar social e as estúpidas ideias do establishment de ensino público são uma explicação muito melhor para as atitudes contraproducentes e autodestrutivas e estilos de vida de ambas as classes baixas.

A "herança da escravidão" certamente não pode explicar os problemas entre os negros, exceto se presumirmos que ela salta gerações inteiras. Em meu livro "Race and Economics" (Hoover Press, 2011), eu cito estudos que mostram que em Nova York, em 1925, 85 por cento dos lares negros eram compostos por ambos os pais. Em 1880, na Filadélfia, três quartos das famílias negras era composta por ambos os pais e filhos. Nacionalmente, no final de 1800, o percentual de famílias biparentais era de 75,2 por cento para os negros, 82,2 por cento para os irlandeses-americanos, 84,5 por cento para teuto-americanos e 73,1 por cento para brancos nativos. Hoje pouco mais de 30 por cento das crianças negras desfruta de famílias biparentais. Tanto durante a escravidão e mais tarde na década de 20, uma adolescente negra criando um filho sem a presença do homem era raro.

O estudo de Dalrymple a partir da Grã-Bretanha mostra que o Estado social é um destruidor de oportunidades iguais.


Walter Willians é professor de Economia na Universidade George Mason.

Tradução: Daniel Antonio de Aquino Neto

Fonte:
http://econfaculty.gmu.edu/wew/articles/12/TheUnderclass.htm

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sábado, 27 de outubro de 2012



sexta-feira, 26 de outubro de 2012


O maior dos perigos

ESCRITO POR OLAVO DE CARVALHO | 25 OUTUBRO 2012
ARTIGOS - CULTURA

Qualquer observador atento pode notar que, quando mais um slogan ou chavão da nova moralidade que se pretende impor à humanidade aparece no programa do globalismo fabiano, ele é imediatamente adotado por toda a mídia mundial.


Tudo na vida de uma democracia depende do seguinte: os cidadãos deixam-se mais facilmente persuadir por provas e documentos ou por um sorriso sarcástico de superioridade vagamente atemorizante?

O sucesso de Barack Hussein Obama nos EUA, bem como o do Foro de São Paulo na América Latina, deveu-se inteiramente ao predomínio da segunda hipótese. Lá como cá, a grande mídia, em massa, esquivou-se à obrigação elementar de investigar e informar, preferindo um jogo-de-cena destinado a inibir, mediante a ameaça velada da humilhação e do ridículo, todas as perguntas politicamente indesejadas.

A bem disciplinada uniformidade desse comportamento não pode ser explicada por nenhuma convergência acidental de preconceitos. Sem nenhuma exceção visível, tanto as empresas quanto os repórteres, redatores e editores, definitivamente, tomaram posição, e mostraram colocar os interesses de suas facções políticas prediletas acima do dever jornalístico de investigar, de informar e, sobretudo, de ouvir os dois lados. Vozes divergentes, pouquíssimas e débeis, não puderam ser caladas de todo, mas, manifestando-se exclusivamente nas seções de opinião ou em blogs, acabaram por tornar-se inaudíveis sob a monstruosa orquestração de desconversas, piadinhas cínicas e rotulações pejorativas nas páginas noticiosas.

Poucos fatos na História foram jamais tão bem averiguados, testados e provados quanto a falsidade documental do presidente americano e o esquema de dominação continental do Foro de São Paulo, no qual se irmanam, como sempre na estratégia comunista, organizações criminosas e partidos nominalmente legais, tornados assim eles próprios criminosos. Por isso mesmo, ambos esses fatos foram sistematicamente suprimidos do noticiário por tempo suficiente para que os beneficiários da cortina de silêncio alcançassem, sob a proteção dela, seus objetivos mais ambiciosos. E justamente por serem certos e irrefutáveis é que não foram impugnados mediante uma discussão franca e aberta, mas sonegados ou minimizados sumariamente por meio de caretas de desprezo, afetações de certeza olímpica e zombarias subginasianas – a mais vasta, organizada e abjeta pantomima que já se viu no mundo.

A mídia, como o próprio nome diz, é o que está no meio, no centro, interconectando classes, grupos, regiões e famílias na visão simultânea de um conjunto de informações disponíveis uniformemente a todos. Ela é por excelência o “lugar comum” (locus communis, tópos koinós), a fonte das premissas geralmente aceitas numa comunidade humana como garantias de verossimilhança e razoabilidade, bases de toda argumentação e crença. Ela desfruta, assim, de uma autoridade mais ampla e avassaladora do que qualquer casta sacerdotal jamais dispôs no passado, em qualquer lugar do planeta.

Até aproximadamente os anos 70, alguma idoneidade no exercício dessa função suprema ainda era garantida, nas democracias, pela variedade ideológica das publicações que livremente concorriam no mercado, como por exemplo, no Brasil da segunda gestão Vargas, a Última Hora de Samuel Wainer na esquerda e o Estadão na direita. Desde então, não só neste país ou nos EUA, mas em todo o hemisfério ocidental, a concentração das empresas em poucas mãos, aliada à progressiva padronização das mentes dos jornalistas por intermédio do ensino universitário que as forma, reduziu a mídia a instrumento de governo e força uniformizadora da alma popular, sem que ela nada perdesse do prestígio residual de locus communisadquirido em épocas de maior diversidade e franqueza.

Qualquer observador atento pode notar que, quando mais um slogan ou chavão da nova moralidade que se pretende impor à humanidade aparece no programa do globalismo fabiano, ele é imediatamente adotado por toda a mídia mundial, e as opiniões diferentes, que até a véspera circulavam normalmente como expressões respeitáveis, são repentinamente marginalizadas e expostas à execração pública como sintomas de radicalismo ou doença mental. Hoje basta você ser contra o aborto para tornar-se imediatamente suspeito de nazismo ou de intenções terroristas. A velocidade crescente com que as idéias mais extravagantes e incongruentes se impõem do dia para a noite como padrões obrigatórios de normalidade anuncia para breve a extinção de toda possibilidade de debate franco sobre o que quer que seja. Não é preciso dizer que essas idéias são criações de mentes psicopáticas e, como contrariam a experiência real mais direta e óbvia, resultam, quando se arraigam na linguagem corrente e exorcizam toda veleidade de pensamento alternativo, em espalhar por toda a sociedade o fingimento histérico como norma de comportamento e padrão formativo das personalidades, trazendo como conseqüência inevitável o embrutecimento da consciência moral e a disseminação das condutas criminosas. Também não é preciso dizer que o caos decorrente é em seguida reaproveitado como pretexto para a imposição de normas ainda mais psicopáticas e destrutivas.

Por isso, Daniel Greenfield foi até eufemístico quando, escrevendo no Front Page Magazine de David Horowitz, afirmou que a grande mídia é hoje “a maior ameaça à integridade do processo político” (v.http://frontpagemag.com/2012/dgreenfield/mediacracy-why-the-media-is-the-greatest-threat-to-the-integrity-of-the-political-process/). Ela tornou-se, isto sim, uma ameaça à inteligência, à civilização, a toda a espécie humana.

Publicado no Diário do Comércio.

http://www.midiasemmascara.org/artigos/cultura/13532-o-maior-dos-perigos.html

quinta-feira, 25 de outubro de 2012


quarta-feira, 24 de outubro de 2012



http://liciomaciel.wordpress.com/2012/10/22/o-chefe-do-mensalao/

2006 – OLAVO JÁ AFIRMAVA !!!

Publicado em  por




Postado por Licio Maciel em 30/09/2006 às 21:55
VOTE CONTRA O LULA!!!
Baita Democracia!
“A cada novo delito, é uma biblioteca inteira de opiniões, de críticas, de análises”.

OLAVO DE CARVALHO/ Filósofo

Pelos frutos os conhecereis, mas não adianta ver os frutos sem saber de qual planta e raiz brotaram. Com exceções mingüadíssimas e irrelevantes, a CLASSE POLÍTICA ATUAL é constituída de três grupos sociais bem nítidos:

1. Os componentes da oposição de esquerda ao regime militar, todos ligados a organizações comunistas como o PCB, o PC do B, a AP, a Pol-Op etc. São a casta superior da política nacional. Têm o prestígio da antigüidade, da luta contra a ditadura e dos sofrimentos inenarráveis que, embora não incluam uma só ferida sangrenta ou um só membro quebrado, lhes rendem indenizações rechonchudas às quais os milhares de aleijados e mutilados das prisões cubanas, que eles ajudaram a prender e torturar, não ousariam aspirar nem em sonhos.

2. A segunda geração de militantes comunistas e pró-comunistas, que não participou diretamente da luta contra a ditadura, mas se formou sob a influência direta e abrangente do grupo 1.

3. Arrivistas variados, sem cor ideológica definida, provenientes de organizações religiosas ou de interesses regionais, que, gostando ou não gostando dos grupos 1 e 2, acabam se adaptando à sua linguagem e aos seus valores, seja por oportunismo, seja por absoluto desconhecimento de outras alternativas mentais possíveis.


Se você sabe o que é conservadorismo – aquela política que se constitui da síntese inseparável de economia de livre mercado, democracia parlamentar, lei e ordem, moral judaico-cristã e predomínio da cultura clássica na educação -, sabe também que não há um só conservador nos grupos 1, 2 ou 3. O leque das opções disponíveis resume-se ao esquerdismo e à inocuidade acomodada. Escolha e vote. É a democracia brasileira em ação. Segundo o senhor Geraldo Alckmin, cuja fidelidade admirável à segunda opção lhe valeu o apelido de Chuchu, isso sim é que é democracia. Baita democracia. Não aquela farsa americana, onde os eleitores têm de escolher entre radical right, paleoconservatives, neoconservatives, libertarians, left-liberals (esquerda moderada) e radical left - um tédio.

Para piorar – o senhor Alckmin não disse, mas digo-o eu -, os políticos americanos têm a mania de registrar suas propostas em livros antes de apregoá-las de cima dos palanques eleitorais. Seus adeptos seguem o exemplo, e seus adversários lhes respondem com outros livros. E os livros, droga!, têm de ser muito bem escritos, senão a mídia ranheta não lhes presta a mínima atenção.
A cada novo pleito, é uma biblioteca inteira de opiniões, de críticas, de análises, de depoimentos, de projetos que aparece na praça. A produção intelectual de uma só eleição americana supera de longe, em volume e qualidade, tudo o que se escreveu sobre política no Brasil ao longo de aproximadamente meio século. Assim não dá, gente. O senhor Alckmin precisa ir lá dar um jeito nisso.

Aqui, os únicos três livros interessantes para a orientação do eleitor neste pleito não foram escritos por candidatos. Já celebrei, de passagem, as memórias do senhor Ricardo Kotscho, onde ele explica como é possível estar sempre por dentro de tudo sem nunca ficar sabendo de nada. Assinalo também Nervos de Aço, o depoimento do herói-bufão Roberto Jefferson, em caprichada edição da Topbooks, narrativa animada de como ele foi parar no melhor lugar da política brasileira, que é fora dela. E, é claro, O Chefe, de Ivo Patarra, meticulosa reconstituição de 403 dias de roubalheira petista, que editora nenhuma quis publicar, mas pode ser descarregado do site
http://www.escandalodomensalao.com.br/. O problema é que nenhum dos três ajuda a escolher candidato. Ajuda é a desistir de votar.
http://liciomaciel.wordpress.com/2012/10/22/2006-olavo-ja-afirmava/

terça-feira, 23 de outubro de 2012




Edward Bernays e o controle da opinião pública
ESCRITO POR CRISTIAN DEROSA | 20 OUTUBRO 2012
ARTIGOS - DESINFORMAÇÃO

A palavra propaganda, na sociologia e na política, nos remete às técnicas empregadas por Joseph Goebbels a serviço de Hitler, cujos crimes normalmente nos trazem à memória o que acreditamos ser o pior e mais devastador genocídio que já houve. Ocorre, porém, que nem Goebbels é idealizador da propaganda nazista e nem o nazismo seria merecedor do status de maior causa de mortes na história humana. Mas por que então palavras como esta e tantas outras nos remetem a ideias sobre as quais manifestamos opiniões de apoio ou repulsa quase que imediatamente?

O uso que Goebbels fez das técnicas de propaganda foi somente uma articulação possível dentre as diversas possibilidades desenvolvidas, na verdade, por Edward Bernays, o pai da profissão de relações públicas e uma das maiores mentes da propaganda no século XX. A inovação trazida por ele foi justamente a associação de palavras e ideias a determinadas emoções, tornando possível o controle dos sentimentos do público e, com isso, de suas ações.

Ao longo do século passado, essas técnicas foram usadas para suscitar repulsa a determinadas ideias, paixões por outras, desejos e até dependências psicológicas a conceitos ou produtos comerciais de clientes específicos. Puderam transferir a culpa de crimes a inocentes mediante exposições na mídia, assim como transformar heróis em bandidos e vice-versa.

Bernays pode ser considerado o idealizador de grande parte da cultura de massa do século passado, do consumismo e da cultura sentimental que vemos hoje. Foi inspirador de Goebbels e deu à propaganda o nome mais genérico e menos agressivo de relações públicas. Com técnicas ligadas à psicanálise, ele empreendeu uma das maiores e mais decisivas mudanças na mente do cidadão comum ao transferir o interesse do consumo da necessidade prática ao desejo simbólico.

Junto aos trabalhos de outros pesquisadores de comunicação social anteriores e posteriores, as técnicas de Bernays foram utilizadas amplamente por institutos de pesquisa social e empresas interessadas em controlar a opinião pública. Este interesse foi crescendo a partir do que era visto como uma necessidade desde o século anterior: a do controle social por meio de uma elite esclarecida. Vejamos como essa necessidade veio a se formar para compreendermos então o papel de Bernays e dos resultados perceptíveis à nossa volta.

O primeiro mito a se desfazer é o de que ideias de controle social são oriundas de mentalidades ligadas a regimes totalitários. Estes regimes só aperfeiçoaram e deram caráter mais técnico a uma necessidade dos próprios regimes democráticos de caráter liberal. A prova disso é que essas ideias surgem da mente de liberais interessados no progresso das ideias e das liberdades. Em muitos aspectos, ideias totalitárias são decorrentes de uma hipertrofia de ideias profundamente democráticas. Afinal, a democracia para funcionar deve contar com o consentimento total. Isso não quer dizer que a democracia seja o problema, mas pode significar que a sua defesa meramente ideológica ou instrumental tem grandes chances de se transfigurar em uma campanha fascista. E gênios ideólogos souberam utilizar muito bem este potencial.

Desde que pensadores como John Locke apontaram para a importancia dos jornais na educação da população, muitos intelectuais e cientistas se dedicaram à compreensão do funcionamento da mídia de massa para estabelecer técnicas precisas de controle por meio de uma elite. A própria ideia de democracia liberal exige um tipo de legitimação que vai além da mera defesa teórica de seus pressupostos, mas passa pela necessidade de se gerar um consentimento público ou o que Karl Mannheim chamaria de “democracia militante”. A existência de propostas de caráter controlador e totalitário, portanto, se deve ao tipo de intelectualidade que acabou ocupando lugar de destaque neste processo. A passagem da idéia de controle indireto da opinião pública para um processo de controle estatal da mídia propriamente, está diretamente ligado à ascenção de um tipo de elite, a socialista fabiana, que se origina das classes pequeno-burguesas historicamente carentes de atenção estatal.

A proeminência das classes intelectuais na opinião pública, a partir do processo de crescimento da circulação de jornais políticos desde o século XVIII, culminou, no final do século XIX, com o florescimento das ideologias massivas, herdeiras e saudosas dos “avanços” da Revolução Francesa. O puritanismo da classe burguesa (influenciado pelo protestantismo), aliado às crenças no poder redentor das revoluções populares, trouxe a idealização de um tipo de proletariado defensor de seus direitos e participativo nas lutas políticas. Esta expectativa, porém, existente só na mente dessa pequena burguesia, não se efetivou na prática, pois o povo proletário do final do século XIX não se interessava por política nem por revoluções, já que as próprias condições de trabalho não pioravam como tentara demonstrar Marx. Isso trouxe certa desilusão no poder popular transformador, por parte dos intelectuais. Marx foi um dos responsáveis pela confusão entre o proletariado e a pequena burguesia insatisfeita ao usar dados do proletariado inglês e cruzá-los com as suas supostas consequências, às revoluções de 1848. Ocorre que estas revoluções foram levantes provocados pela pequena burguesia alfabetizada e insatisfeita, não por operários.

O resultado deste processo psicológico, muito bem descrito por Emmanuel Todd em seu livro 'O louco e o proletário – filosofia psiquiátrica da história' (1951), foi o estabelecimento de um poder paralelo dos herdeiros dessa recalcada burguesia intelectual, cuja expressão mais clara está na atual elite globalista que já no início do século XX estava no comando da intelectualidade mundial.

O início do século XX, portanto, foi marcado por pesquisas de opinião pública de caráter normativo, a chamada escola funcionalista, que tinha como principal objetivo o conhecimento de técnicas para a manutenção da ordem pública, objetivo de uma classe científica de escola positivista. Os institutos de pesquisa social, como Rockefeller e Tavistock, inspirados na antiga confraria de pesquisadores de Wellington House, dedicaram-se ao estudo do processo cognitivo e os seus resultados práticos para a política.

Mais tarde, porém, percebeu-se que as agendas políticas deviam ser trabalhadas no campo cultural, o que trouxe maior margem de ação a estes pesquisadores. Hoje, nomes como Edward Bernays, Kurt Lewin, Walter Lippmann, entre outros, são referências em matéria de opinião pública e psicologia das massas, apesar de seus estudos serem vistos como meras investigações sem funções práticas. Lippmann, em seu livro 'Opinião Pública' (1922), revolucionou os estudos de mídia ao relacionar as decisões dos cidadãos às imagens do mundo em suas mentes, cuja construção caberia a uma elite de esclarecidos que tivessem o controle dos meios de comunicação. Suas conclusões foram derivadas das descobertas de Ivan Pavlov sobre o condicionamento cognitivo das ações e dos comportamentos dos animais aplicados ao homem. Assim, Lippmann salienta a importância dos diversos mecanismos de censura como condição para a construção social, e sua função de barreira necessária entre o público e os eventos para a construção dos pseudo-ambientes.

Lippman – importante fonte de estudos em comunicação hoje – argumentava que a democracia representativa não poderia funcionar sem uma “organização especializada e independente que torne os fatos invisíveis inteligíveis àqueles que tomam as decisões”. Ele concluia o primeiro capítulo dizendo: “Minha conclusão é que, para serem adequadas, as opiniões públicas precisam ser organizadas para a imprensa e não pela imprensa”.

Estando o público distanciado dos eventos reais por meio de barreiras naturais ou artificiais, este terá, portanto, como única imagem destes fatos o que é passado por meio da mídia, das notícias diárias. “O único sentimento que alguém pode ter acerca de um evento que ele não vivenciou é o sentimento provocado por sua imagem mental daquele evento”, diz Lippmann. Entre os seres humanos e o ambiente real, há a presença marcante dos pseudo-ambientes dos quais o comportamento é uma resposta. Este comportamento-resposta, porém, se é uma ação, não opera evidentemente no mundo dos pseudo-ambientes onde foi estimulado, mas no ambiente real onde de fato as ações acontecem.

Em termos práticos, isso quer dizer que, de posse do controle das notícias, pode-se determinar em grande parte as respostas dos cidadãos, por meio da geração destes pseudo-ambientes. Para determinar ações ou sentimentos específicos nos indivíduos, portanto, basta ater-se à forma como é construída a imagem do objeto e torná-lo socialmente válido. Ou seja, se as ações fossem respostas à realidade, seria muito difícil determinar ações, pois é impossível mudar os fatos dos quais as ações são a resposta. Esta é como se vê uma explicação lógica da mentira sistematizada.

Lippman foi membro da Sociedade Fabiana na juventude até se desiludir com o socialismo por não concordar com a ideia da luta de classes, embora aceitasse a sua existência na realidade. A imagem mental da ideia de luta de classes fomentaria o caos e a desordem, coisa tida como inevitável para os socialistas. Ele queria que a sociedade fosse controlada para a democracia e a ordem e via no marxismo ortodoxo um entrave à paz, apesar de concordar com a doutrina marxista quanto à economia. Não é a toa que Lippmann é um dos honoráveis fundadores do Council of Foreign Relations (CFR), em 1919, uma das mais atuantes entidades de influência da opinião pública no mundo. Com o CFR, o sonho de Lippmann e de muitos intelectuais fabianos estava mais perto de ser realizado.

Engenharia do consentimento
Edward Bernays trabalhou para o presidente norte-americano Woodrow Wilson e foi o responsável pela legitimação pública que o governo teve para entrar na guerra contra a Áustria, em 1917.

Então com apenas 27 anos, o exitoso assessor ficou a imaginar que resultados teriam estas técnicas de controle da opinião pública se aplicados em tempos de paz. Foi então que Bernays, retornando aos EUA, passou a trabalhar para grandes empresas na profissão que ele mesmo inventara. Assim, o jovem assessor criou grande parte da cultura que conhecemos, ao desvincular o consumo da necessidade, ligando-o aos desejos humanos expressados na esfera simbólica, a partir da aplicação massiva das teorias do seu tio Freud. Um ano após o lançamento do livro de Lippmann, coube a Bernays a tarefa de criar a profissão de relações públicas, o profissional encarregado de fomentar agendas públicas consonantes com objetivos políticos de seus assessorados. A profissão surgiu a partir do livro 'Cristallizing Public Opinion', de 1923, a partir das técnicas já utilizadas por Bernays.

A liberdade de expressão, dizia Bernays em seu artigo célebre 'A engenharia do consentimento', “expandiu a carta de direitos americanos para incluir o direito à persuasão”. Este foi o resultado da inevitável expansão da mídia e da livre expressão, como ele afirmou. “Qualquer um de nós pode, por meio dessas mídias, influenciar as atitudes e ações de nossos companheiros cidadãos”, diz Bernays. E recomenda: “o conhecimento de como usar esse enorme sistema de amplificação torna-se uma preocupação primária para aqueles interessados em uma ação socialmente construtiva”.

Baseado então nos pressupostos de Lippmann, Bernays pensa ser possível desenvolver técnicas de persuasão apoiadas no conhecimento da psicologia humana. Embora os resultados dos estudos de Bernays tivessem sido usados por Joseph Goebbels, o famoso publicitário do nazismo, segundo ele próprio admitira, os objetivos de Bernays estavam em consonância com os princípios democráticos, como se vê:

“A engenharia do consentimento é justamente a essência do processo democrático, a liberdade de persuadir e sugestionar. As liberdades de expressão, imprensa, petição e reunião, as liberdades que fazem a engenharia do consentimento possível, estão entre as mais celebradas garantias da Constituição dos Estados Unidos”.

Através do processo educacional, assegura Bernays, os governos devem conceder ao seu público um entendimento sobre os problemas para tomarem suas decisões. Mas a engenharia do consentimento, alerta ele, não deve confundir-se com o sistema educacional, pois deve completá-lo e ir além dele, já que se direciona à ação e não simplesmente à compreensão de determinadas situações. A engenharia do consentimento deve, portanto, suprir as lacunas do sistema educacional na determinação de ações.

Bernays alerta para os perigos de que suas técnicas sejam subvertidas e usadas para fins antidemocráticos. Por isso, “o líder responsável, de modo a realizar objetivos sociais, deve estar constantemente alerta às possibilidades de subversão”. Ironicamente, um exemplar bastante conhecido deste “líder responsável”, assessorado por um de seus discípulos involuntários, levou o povo alemão a bater continênica para as atrocidades de Hitler.

Apesar do relativo sucesso da campanha nazista nos meios de comunicação da época (campanha até hoje considerada erroneamente pioneira na propaganda), Bernays salienta que a persuasão encontra o seu terreno fértil nas democracias liberais, “onde a livre comunicação e a competição de ideias no mercado são permitidas”. As democracias, portanto, funcionam bem à persuasão já que são as suas garantidoras por natureza. Estes sistemas, portanto, que constituem a base da política ocidental, se tomados como valores em si, servem a uma variada gama de objetivos, incluindo aqueles contra os quais o sistema mesmo busca ser uma defesa. Basta que a palavra democracia seja esvaziada de seu significado e substituído por outro, tática bastante simples e usual, para que mudem os propósitos a que essas técnicas servirão.

Seguindo o próprio curso liberal capitalista, se as idéias socialistas estão vencendo a concorrência das idéias, é para lá que se dirige o fluxo de dinheiro e esforços para campanhas políticas e publicitárias, o que explica a hegemonia de discursos ecológicos e socialistas na totalidade dos partidos e de campanhas publicitárias de empresas capitalistas ocidentais.

As teorias da comunicação, especificamente as ligadas ao jornalismo, têm estudado exaustivamente o comportamento da imprensa e dos jornalistas, em busca de uma lógica na circulação de notícias, como mostram os estudos de agendamento da mídia. Mas são insuficientes se não levarem em conta a evolução dos estudos no campo da publicidade e das técnicas de consentimento e controle da opinião pública usadas há mais de um século por agências de inteligência, órgãos governamentais e institutos de pesquisas como o Instituto Tavistock, mantido por fundações internacionais. Hoje o consentimento político de caráter nacional ou empresarial deu lugar ao global e a criação de um discurso único que, por trás de todas as causas, trabalha para a acumulação de poder dos grupos ligados às Nações Unidas e sua agenda. Não deixa de ser estranho afirmar que aqueles estudos financiados por instituições como Rockefeller, Ford, entre outras, tinham somente uma curiosidade científica e nenhum interesse em descobrir técnicas de controle. Ainda mais ingênua nos parece essa afirmação se constatarmos que estas instituições hoje comandam os altos executivos das maiores empresas de mídia do mundo.

Os intelectuais globalistas, que como dissemos no início, são herdeiros daquela pequena burguesia revolucionária, órfã e saudosa do poder estatal, hoje controlam a opinião pública conduzindo-a como bem entendem e para os fins que deseja, sem que ninguém se oponha de forma eficiente nos mesmos termos, isto é, por influência simétrica na opinião pública. Neste sentido, a compreensão das suas técnicas e o seu reconhecimento na realidade deveria ser a primeira etapa para qualquer reação às campanhas de consentimento, já que elas atuam muitas vezes em terrenos simbólicos e até subliminares de significação.

Afinal, como afirmou Bernays, “a manipulação consciente e inteligente dos hábitos organizados e opiniões das massas é um elemento importante na sociedade democrática. Aqueles que manipulam este mecanismo oculto da sociedade constituem um governo invisível que é o verdadeiro poder do nosso país”.


Referências:

STEEL, Ronald. Walter Lippmann and the american century (1999)

TODD, Emmanuel. O louco e o proletário: filosofia psiquiátrica da história (1951);

LIPPMANN, Walter. Opinião Pública (1922).

MCCOMBS, Maxwell. A teoria da agenda (2009);

COLEMAN, John. O Instituto Tavistock de relações sociais.

BERNAYS, Edward. A engenharia do consentimento (1947): disponível em: http://www.ip.usp.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=1927%3Av3n1a09-a-engenharia-do-consentimento&catid=340%3Arevista-transformacoes&Itemid=91&lang=pt

Cristian Derosa é jornalista.
http://www.midiasemmascara.org/artigos/desinformacao/13519-edward-bernays-e-o-controle-da-opiniao-publica.html


segunda-feira, 22 de outubro de 2012


domingo, 21 de outubro de 2012



A tragédia do estudante sério no Brasil 
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 12 de fevereiro de 2006



Toda semana, recebo dezenas de cartas de estudantes que, em busca de alguma formação intelectual, encontraram nas universidades que freqüentam apenas propaganda comunista rasteira, porca, subginasiana.



Não são, como em geral imaginam, vítimas de puras circunstâncias políticas imediatas. Gemem sob uma montanha de fatores adversos à inteligência humana, que foram se acumulando no mundo, e não só no Brasil, ao longo das últimas décadas. Se a primeira metade do século XX trouxe um florescimento intelectual incomum, a segunda foi uma devastação geral como raramente se viu na História. A queda foi tão profunda que já não se pode medi-la. Num panorama inteiramente dominado por charlatães caricatos como Noam Chomsky, Richard Dawkins, Edward Said, Jacques Derrida, Julia Kristeva, a época em que floresceram quase que simultaneamente Edmund Husserl, Karl Jaspers, Louis Lavelle, Alfred North Whitehead, Benedetto Croce, Jan Huizinga, Arnold Toynbee – e na literatura T. S. Eliot, W. B. Yeats, Ezra Pound, Thomas Mann, Franz Kafka, Jacob Wassermann, Robert Musil, Hermann Broch, Heimito von Doderer – já se tornou invisível, inalcançável à imaginação dos nossos contemporâneos. Toda comparação é entre alguma coisa e alguma outra coisa. Não se pode comparar tudo com nada.



Isso não quer dizer que as fontes do conhecimento tenham secado. Pensadores de grande envergadura – um Eric Voegelin, um Bernard Lonergan, um Xavier Zubiri – sobreviveram à debacle dos anos 60 e continuaram atuantes, o primeiro até 1985, o segundo até 1984, o terceiro até 1983. Mas seus ensinamentos são ainda a posse exclusiva de círculos seletos. Não entram na corrente geral das idéias, nem poderiam entrar sem sujar-se, sem transformar-se em matéria de discussões idiotas como vem acontecendo, graças à ascensão política de alguns de seus discípulos, com o infeliz Leo Strauss.



Pois a desgraça se deu justamente na “corrente geral”. O fim da II Guerra Mundial trouxe uma prodigiosa reorganização das bases sociais e econômicas da vida intelectual no mundo. Novas instituições, novas redes de comunicação, novos mecanismos de estocagem e distribuição das informações acadêmicas, novos públicos e, sobretudo, a ampliação inaudita do apoio estatal e privado à cultura e a formação dos grandes organismos internacionais como a ONU e a Unesco. Tudo isso veio junto com o descrédito do marxismo soviético e a profunda mutação interna da militância esquerdista internacional, a essa altura já plenamente imbuída das duas lições aprendidas da Escola de Frankfurt e de Georg Lukacs (mas também, mais discretamente, de Martin Heidegger): (1) a luta essencial não era propriamente contra o capitalismo, mas contra “a civilização ocidental”; (2) o agente principal do processo era a classe dos intelectuais.



Nessas condições, o crescimento fabuloso dos meios de atuação veio junto com o esforço multilateral de apropriação desses meios por parte de grupos militantes bem pouco interessados em “compreender o mundo” mas totalmente devotados a “transformá-lo”. A redução drástica da atividade intelectual ao ativismo político foi a conseqüência desejada e planejada dessa operação, realizada em escala mundial a partir dos anos 60.



Não que o fenômeno fosse totalmente desconhecido antes disso. Um vasto ensaio geral já vinha sendo realizado nos EUA desde a década de 30 pelo menos, através das grandes fundações “não lucrativas” que descobriram seu poder de orientar e manipular a seu belprazer a atividade intelectual, científica e educacional mediante a simples seleção ideologicamente orientada dos destinatários de suas verbas bilionárias.



Em 1954, uma comissão de investigações do Congresso americano já havia descoberto que fundações como Rockefeller, Carnegie e Ford exerciam controle indevido sobre as universidades, as instituições de pesquisa e a cultura em geral, orientando-as num sentido francamente anti-americano, anticristão e até anticapitalista. (Não me perguntem pela milésima vez com que interesse os grandes capitalistas podem agir contra o capitalismo. A explicação está resumida em
http://www.olavodecarvalho.org /semana/040617jt.htm e http://www.olavodecarvalho.org /textos/debate_usp_4.htm .) Inevitavelmente, a influência exercida por essas organizações não consistiu só em introduzir uma determinada cor política na produção cultural, mas em alterá-la e corrompê-la até às raízes, subordinando aos objetivos políticos e publicitários visados todas as exigências de honestidade, veracidade e rigor. Sem essa interferência, fraudes cabeludas como o Relatório Kinsey ou a pseudo-antropologia de Margaret Mead jamais teriam conseguido impor-se ao meio acadêmico e à mídia cultural como produtos respeitáveis de uma atividade científica normal.



A comissão foi alvo de ataques virulentos de toda a grande mídia, e seu trabalho acabou por ser esquecido, mas ele ainda é uma das melhores fontes de consulta sobre a instrumentalização política da cultura (v. René Wormser, Foundations, Their Power and Influence , New York, Devin-Adair, 1958 – vocês podem comprá-lo pelo site
www.bookfinder.com ). Na verdade, sem ele não se pode compreender nada do que se passou em seguida, pois o que se passou foi que o experimento tentado em escala americana foi ampliado para o mundo todo: a apropriação dos meios de ação cultural pelas organizações militantes e o sacrifício integral da inteligência humana no altar da “vontade de poder” simplesmente se globalizaram.



Recursos incalculavelmente vastos, que poderiam ter sido utilizados para o progresso do conhecimento e a melhoria da condição de vida da espécie humana foram assim desperdiçados para sustentar a guerra geral da estupidez militante contra a “civilização ocidental” que havia gerado esses mesmos recursos.



Embora esse processo seja de alcance mundial, é claro que o seu peso se fez sentir mais densamente em países novos do Terceiro Mundo, onde as criações das épocas anteriores não tinham sido assimiladas com muita profundidade e as raízes da civilização podiam ser mais facilmente cortadas. No Brasil, da década de 60 em diante, os progressos da barbárie foram talvez mais rápidos do que em qualquer outro lugar, destruindo com espantosa facilidade as sementes de cultura que, embora frágeis, vinham dando alguns frutos promissores. A comparação impossível entre as duas épocas, que mencionei acima, é ainda mais impossível no caso brasileiro. Na década de 50, tínhamos, vivos e atuantes, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Àlvaro Lins, Augusto Meyer, Otto Maria Carpeaux, Mário Ferreira dos Santos, Vicente Ferreira da Silva, Herberto Sales, Cornélio Penna, Gustavo Corção, Nelson Rodrigues, Lúcio Cardoso, Heitor Villa-Lobos, Augusto Frederico Schmidt, a lista não acaba mais. Hoje, quem representa na mídia a imagem da “cultura brasileira”? Paulo Coelho, Luís Fernando Veríssimo, Gilberto Gil, Arnaldo Jabor, Emir Sader, Frei Betto e Leonardo Boff. Perto desses, Chomsky é Aristóteles. É o grau mais alto pelo qual se medem. Chamar isso de crise, ou mesmo de decadência, é de um otimismo delirante. A cultura brasileira tornou-se a caricatura de uma palhaçada. É uma coisa oca, besta, disforme, doente, incalculavemente irrisória.



A inteligência, ao contrário do dinheiro ou da saúde, tem esta peculiaridade: quanto mais você a perde, menos dá pela falta dela. O homem inteligente, afeito a estudos pesados, logo acha que emburreceu quando, cansado, nervoso ou mal dormido, sente dificuldade em compreender algo. Aquele que nunca entendeu grande coisa se acha perfeitamente normal quando entende menos ainda, pois esqueceu o pouco que entendia e já não tem como comparar. Uma das coisas que me deliciam, que me levam ao êxtase quando contemplo o Brasil de hoje, é o ar de seriedade com que as pessoas discutem e pretendem sanar os males econômicos, políticos e administrativos do Brasil, sem ligar a mínima para a destruição da cultura, como se a inteligencia prática subsistisse incólume ao emburrecimento geral, como se inteligência fosse um adorno a ser acrescentado ao sucesso depois de resolvidos todos os problemas ou como se a inépcia absoluta não fosse de maneira alguma um obstáculo à conquista da felicidade geral. A prova mais evidente da insensibilidade torpe é o sujeito já nem sentir saudade da consciência que teve um dia.



Mas não, a inteligência nacional não acabou no dia em que os nossos estudantes tiraram o último lugar numa avaliação entre alunos do curso secundário de 32 países: acabou logo em seguida, quando o ministro da Educação disse que o resultado poderia ter sido pior.



Num sentido mais profundo do que o ministro imaginava, poderia mesmo. Na eleição seguinte, o país colocou na presidência um carreirista enriquecido, de terno Armani e unhas polidas, que, por orgulhar-se de jamais ler livros, foi proclamado um símbolo da autenticidade popular. A imagem era falsa, grotesca e insultuosa, mas ninguém percebeu. Se existe um grau abaixo do grotesco, porém, ele foi atingido logo em seguida, quando o escritor Raymundo Faoro, quanto mais bobo mais celebrado nas esquerdas como inteligência luminosa, sugeriu o nome do então presidenciável para ocupar uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Perto disso, tirar o último lugar num teste chegava a ser meritório.



Se o desespero dos estudantes que me escrevem viesse só da situação política, haveria esperança de saná-lo por meio da ação política. Mas a ação política é um subproduto da cultura e, no estado em que as coisas estão, nenhuma ação política inteligente, ao menos em escala federal, é previsível nas próximas duas ou três gerações. Nas próximas eleições, por exemplo, o país terá de optar novamente entre PT e PSDB, isto é, os dois filhotes monstruosos gerados no ventre da USP, a mãe da esterilidade nacional, ou como bem a sintetizou o poeta Bruno Tolentino, a “p... que não pariu”. Sim, a política brasileira virou uma imensa assembléia de estudantes da USP, com o Partido Comunista de um lado, a Ação Popular de outro, num torneio de arrogância, presunção, hipocrisia, sadismo mental, mendacidade ilimitada e estupidez sem fim. A USP levou meio século para chegar ao poder, e ainda não parou de gerar pseudo-intelectuais ambiciosos, ávidos de mandar, sedentos de ministérios. Sua obra de destruição está longe de haver-se completado.



Da política nada de bom se pode esperar num prazo humanamente suportável. Uma ação cultural de grande escala – a fundação de uma autêntica instituição de ensino superior, para contrabalançar a desgraça uspiana – também não é nada provável, dada a omissão das chamadas “elites”, sempre de rabo entre as pernas, oscilando entre lamber mais um pouco os pés da canalha petista ou apegar-se ao primeiro zesserra que apareça.



Ao estudante que consiga ainda vislumbrar o que é vida intelectual e faça dela o objetivo de sua existência, restam dois caminhos: o exílio, que pode levar ao lugar errado (a miséria brasileira nasce em Paris), e o isolamento, que pode levar os mais fracos a um desespero ainda mais profundo do que aquele em que se encontram.



A única solução viável, que enxergo, é a formação de pequenos grupos solidários, firmemente decididos a obter uma formação intelectual sólida, de início sem nenhum reconhecimento oficial ou acadêmico, mas forçando mais tarde a obtenção desse reconhecimento mediante prova de superioridade acachapante. Já não leciono no Brasil, mas a experiência mostrou que muito aluno meu, com alguns anos de aulas e bastante estudo em casa, já está pronto para dar de dez a zero, não digo em alunos, mas em professores da USP do calibrinho de Demétrio Magnoli e Emir Sader, o que, bem feitas as contas, é até luta desigual, é até covardia.



O processo é trabalhoso, mas simples: cumprir as tarefas tradicionais do estudo acadêmico, dominar o trivium , aprender a escrever lendo e imitando os clássicos de três idiomas pelo menos, estudar muito Aristóteles, muito Platão, muito Tomás de Aquino, muito Leibniz, Schelling e Husserl, absorver o quanto possível o legado da universidade alemã e austríaca da primeira metade do século XX, conhecer muito bem a história comparada de duas ou três civilizações, absorver os clássicos da teologia e da mística de pelo menos três religiões, e então, só então, ler Marx, Nietzsche, Foucault. Se depois desse regime você ainda se impressionar com esses três, é porque é burro mesmo e eu nada posso fazer por você.



Mas o ambiente universitário brasileiro de hoje é tão baixo, tão torpe, que só de a gente apresentar essa lista – o mínimo requerido para uma formação séria de filósofo ou erudito –, o pessoal já arregala os olhos de susto. Na verdade, o estudante brasileiro não lê nada, só resumo e orelha, além de Emir Sader e da dupla Betto & Boff, que não valem o resumo de uma orelha. É tudo farsa, chanchada, pose. Não há quem não saiba disso e não há quem não acabe se acomodando a essa situação como se fosse natural e inevitável. A abjeção intelectual deste país é sem fim. 


http://www.olavodecarvalho.org/semana/060213dc.htm






A engenharia da desordem


Escrito por Olavo de Carvalho | 13 Setembro 2012
Artigos - Governo do PT

Na confusão geral das consciências, toda discussão racional se torna impossível e então, naturalmente, espontaneamente, quase imperceptivelmente, o centro decisório se desloca para as mãos dos mais descarados e cínicos.


Todo mundo sabe que a base eleitoral do ex-presidente Lula, bem como a da sua sucessora, está nas filas de beneficiários das verbas do Fome Zero. Embora a origem do programa remonte ao governo FHC, o embrulhão-em-chefe conseguiu fundi-lo de tal maneira à imagem da sua pessoa, que a multidão dos recebedores teme que votar contra ele seja matar a galinha dos ovos de ouro.

No começo ele prometia, em vez disso, lhes arranjar empregos, mas depois se absteve prudentemente de fazê-lo e preferiu, com esperteza de mafioso, reduzi-los à condição de dependentes crônicos.

O cidadão que sai da miséria para entrar no mercado de trabalho pode permanecer grato, durante algum tempo, a quem lhe deu essa oportunidade, mas no correr dos anos acaba percebendo que sua sorte depende do seu próprio esforço e não de um favor recebido tempos atrás. Já aquele cuja subsistência provém de favores renovados todos os meses torna-se um puxa-saco compulsivo, um servidor devoto do "Padim", um profissional do beija-mão.

O político que faz carreira baseado nesse tipo de programa é, com toda a evidência, um corruptor em larga escala, que vive da deterioração da moralidade popular. É impossível que o crescimento do Fome Zero não tenha nada a ver com o da criminalidade, do consumo de drogas e dos casos de depressão. Transforme os pobres em mendigos remediados e em poucos anos você terá criado uma massa de pequenos aproveitadores cínicos, empenhados em eternizar a condição de dependência e extrair dela proveitos miúdos, mas crescentes, fazendo do próprio aviltamento um meio de vida.

O assistencialismo estatal vicioso não foi, porém, o único meio usado pela elite petista para reduzir a sociedade brasileira a um estado de incerteza moral e de anomia.

Na mesma medida em que se absteve de criar empregos, o sr. Lula também se esquivou de dar aos pobres qualquer rudimento de educação, por mais mínimo que fosse, para lhes garantir a longo prazo uma vida mais dotada de sentido. Durante seus dois mandatos o sistema educacional brasileiro tornou-se um dos piores do universo, uma fábrica de analfabetos e delinquentes como nunca se viu no mundo.

Ao mesmo tempo, o governo forçava a implantação de novos modelos de conduta – abortismo, gayzismo, racialismo, ecolatria, laicismo à outrance etc. –, sabendo perfeitamente que a quebra repentina dos padrões de moralidade tradicionais produz aquele estado de perplexidade e desorientação, aquela dissolução dos laços de solidariedade social, que desemboca no indiferentismo moral, no individualismo egoísta e na criminalidade.

Por fim, à dissolução da capacidade de julgamento moral seguiu-se a da ordem jurídica: o novo projeto de Código Penal, invertendo a escala de gravidade dos crimes, consagrando o aborto como direito incondicional, facilitando a prática da pedofilia, descriminalizando criminosos e criminalizando cidadãos honestos por dá cá aquela-palha, choca de tal modo os hábitos e valores da população, que equivale a um convite aberto à insolência e ao desrespeito.

Só o observador morbidamente ingênuo poderá enxergar nesses fenômenos um conjunto de erros e fracassos. Seria preciso uma constelação miraculosa de puras coincidências para que, sistematicamente, todos os erros e fracassos levassem sempre ao sucesso cada vez maior dos seus autores.

Tudo isso parece loucura, mas é loucura premeditada, racional. É uma obra de engenharia. Se há uma obviedade jamais desmentida pela experiência, é esta: a desorganização sistemática da sociedade é o modo mais fácil e rápido de elevar uma elite militante ao poder absoluto. Para isso não é preciso nem mesmo suspender as garantias jurídicas formais, implantar uma "ditadura" às claras. Já faz muitas décadas que a sociologia e a ciência política compreenderam esse processo nos seus últimos detalhes.

Leiam, por exemplo, o clássico estudo de Karl Mannheim, A estratégia do grupo nazista (no volume Diagnóstico do Nosso Tempo, ed. Zahar). A fórmula é bem simples: na confusão geral das consciências, toda discussão racional se torna impossível e então, naturalmente, espontaneamente, quase imperceptivelmente, o centro decisório se desloca para as mãos dos mais descarados e cínicos, aos quais o próprio povo, atônito e inseguro, recorrerá como aos símbolos derradeiros da autoridade e da ordem no meio do caos. Isso já está acontecendo.

A ascensão dos partidos de esquerda à condição de dominadores exclusivos do panorama político, praticamente sem oposição, nunca teria sido possível sem o longo trabalho de destruição da ordem na sociedade e nas almas. Mas também não teria sido possível se o caos fosse completo. O caos completo só convém a anarquistas de porão, marginais e oprimidos. Quando a revolução vem de cima, é essencial que alguns setores da vida social, indispensáveis à manutenção do poder de governo, sejam preservados no meio da demolição geral.

Os campos escolhidos para permanecer sob o domínio da razão foram, compreensivelmente, a Receita Federal, o Ministério da Defesa e a economia. A primeira, a mais indispensável de todas, porque não se faz uma revolução sem dinheiro, e ninguém jamais chegará a dominar o Estado por dentro se não consegue fazer com que ele próprio financie a operação. A administração relativamente sensata dos outros dois campos anestesiou e neutralizou preventivamente, com eficiência inegável, as duas classes sociais de onde poderia provir alguma resistência ao regime, como se viu em 1964: os militares e os empresários. Cachorro mordido de cobra tem medo de linguiça. 


Publicado no Diário do Comércio.
http://www.midiasemmascara.org/artigos/governo-do-pt/13406-a-engenharia-da-desordem.html


Edward Bernays e o controle da opinião pública


Escrito por Cristian Derosa | 20 Outubro 2012
Artigos - Desinformação

A palavra propaganda, na sociologia e na política, nos remete às técnicas empregadas por Joseph Goebbels a serviço de Hitler, cujos crimes normalmente nos trazem à memória o que acreditamos ser o pior e mais devastador genocídio que já houve. Ocorre, porém, que nem Goebbels é idealizador da propaganda nazista e nem o nazismo seria merecedor do status de maior causa de mortes na história humana. Mas por que então palavras como esta e tantas outras nos remetem a ideias sobre as quais manifestamos opiniões de apoio ou repulsa quase que imediatamente?

O uso que Goebbels fez das técnicas de propaganda foi somente uma articulação possível dentre as diversas possibilidades desenvolvidas, na verdade, por Edward Bernays, o pai da profissão de relações públicas e uma das maiores mentes da propaganda no século XX. A inovação trazida por ele foi justamente a associação de palavras e ideias a determinadas emoções, tornando possível o controle dos sentimentos do público e, com isso, de suas ações.

Ao longo do século passado, essas técnicas foram usadas para suscitar repulsa a determinadas ideias, paixões por outras, desejos e até dependências psicológicas a conceitos ou produtos comerciais de clientes específicos. Puderam transferir a culpa de crimes a inocentes mediante exposições na mídia, assim como transformar heróis em bandidos e vice-versa.

Bernays pode ser considerado o idealizador de grande parte da cultura de massa do século passado, do consumismo e da cultura sentimental que vemos hoje. Foi inspirador de Goebbels e deu à propaganda o nome mais genérico e menos agressivo de relações públicas. Com técnicas ligadas à psicanálise, ele empreendeu uma das maiores e mais decisivas mudanças na mente do cidadão comum ao transferir o interesse do consumo da necessidade prática ao desejo simbólico.

Junto aos trabalhos de outros pesquisadores de comunicação social anteriores e posteriores, as técnicas de Bernays foram utilizadas amplamente por institutos de pesquisa social e empresas interessadas em controlar a opinião pública. Este interesse foi crescendo a partir do que era visto como uma necessidade desde o século anterior: a do controle social por meio de uma elite esclarecida. Vejamos como essa necessidade veio a se formar para compreendermos então o papel de Bernays e dos resultados perceptíveis à nossa volta.

O primeiro mito a se desfazer é o de que ideias de controle social são oriundas de mentalidades ligadas a regimes totalitários. Estes regimes só aperfeiçoaram e deram caráter mais técnico a uma necessidade dos próprios regimes democráticos de caráter liberal. A prova disso é que essas ideias surgem da mente de liberais interessados no progresso das ideias e das liberdades. Em muitos aspectos, ideias totalitárias são decorrentes de uma hipertrofia de ideias profundamente democráticas. Afinal, a democracia para funcionar deve contar com o consentimento total. Isso não quer dizer que a democracia seja o problema, mas pode significar que a sua defesa meramente ideológica ou instrumental tem grandes chances de se transfigurar em uma campanha fascista. E gênios ideólogos souberam utilizar muito bem este potencial.

Desde que pensadores como John Locke apontaram para a importancia dos jornais na educação da população, muitos intelectuais e cientistas se dedicaram à compreensão do funcionamento da mídia de massa para estabelecer técnicas precisas de controle por meio de uma elite. A própria ideia de democracia liberal exige um tipo de legitimação que vai além da mera defesa teórica de seus pressupostos, mas passa pela necessidade de se gerar um consentimento público ou o que Karl Mannheim chamaria de “democracia militante”. A existência de propostas de caráter controlador e totalitário, portanto, se deve ao tipo de intelectualidade que acabou ocupando lugar de destaque neste processo. A passagem da idéia de controle indireto da opinião pública para um processo de controle estatal da mídia propriamente, está diretamente ligado à ascenção de um tipo de elite, a socialista fabiana, que se origina das classes pequeno-burguesas historicamente carentes de atenção estatal.

A proeminência das classes intelectuais na opinião pública, a partir do processo de crescimento da circulação de jornais políticos desde o século XVIII, culminou, no final do século XIX, com o florescimento das ideologias massivas, herdeiras e saudosas dos “avanços” da Revolução Francesa. O puritanismo da classe burguesa (influenciado pelo protestantismo), aliado às crenças no poder redentor das revoluções populares, trouxe a idealização de um tipo de proletariado defensor de seus direitos e participativo nas lutas políticas. Esta expectativa, porém, existente só na mente dessa pequena burguesia, não se efetivou na prática, pois o povo proletário do final do século XIX não se interessava por política nem por revoluções, já que as próprias condições de trabalho não pioravam como tentara demonstrar Marx. Isso trouxe certa desilusão no poder popular transformador, por parte dos intelectuais. Marx foi um dos responsáveis pela confusão entre o proletariado e a pequena burguesia insatisfeita ao usar dados do proletariado inglês e cruzá-los com as suas supostas consequências, às revoluções de 1848. Ocorre que estas revoluções foram levantes provocados pela pequena burguesia alfabetizada e insatisfeita, não por operários.

O resultado deste processo psicológico, muito bem descrito por Emmanuel Todd em seu livro 'O louco e o proletário – filosofia psiquiátrica da história' (1951), foi o estabelecimento de um poder paralelo dos herdeiros dessa recalcada burguesia intelectual, cuja expressão mais clara está na atual elite globalista que já no início do século XX estava no comando da intelectualidade mundial.

O início do século XX, portanto, foi marcado por pesquisas de opinião pública de caráter normativo, a chamada escola funcionalista, que tinha como principal objetivo o conhecimento de técnicas para a manutenção da ordem pública, objetivo de uma classe científica de escola positivista. Os institutos de pesquisa social, como Rockefeller e Tavistock, inspirados na antiga confraria de pesquisadores de Wellington House, dedicaram-se ao estudo do processo cognitivo e os seus resultados práticos para a política.

Mais tarde, porém, percebeu-se que as agendas políticas deviam ser trabalhadas no campo cultural, o que trouxe maior margem de ação a estes pesquisadores. Hoje, nomes como Edward Bernays, Kurt Lewin, Walter Lippmann, entre outros, são referências em matéria de opinião pública e psicologia das massas, apesar de seus estudos serem vistos como meras investigações sem funções práticas. Lippmann, em seu livro 'Opinião Pública' (1922), revolucionou os estudos de mídia ao relacionar as decisões dos cidadãos às imagens do mundo em suas mentes, cuja construção caberia a uma elite de esclarecidos que tivessem o controle dos meios de comunicação. Suas conclusões foram derivadas das descobertas de Ivan Pavlov sobre o condicionamento cognitivo das ações e dos comportamentos dos animais aplicados ao homem. Assim, Lippmann salienta a importância dos diversos mecanismos de censura como condição para a construção social, e sua função de barreira necessária entre o público e os eventos para a construção dos pseudo-ambientes.

Lippman – importante fonte de estudos em comunicação hoje – argumentava que a democracia representativa não poderia funcionar sem uma “organização especializada e independente que torne os fatos invisíveis inteligíveis àqueles que tomam as decisões”. Ele concluia o primeiro capítulo dizendo: “Minha conclusão é que, para serem adequadas, as opiniões públicas precisam ser organizadas para a imprensa e não pela imprensa”.

Estando o público distanciado dos eventos reais por meio de barreiras naturais ou artificiais, este terá, portanto, como única imagem destes fatos o que é passado por meio da mídia, das notícias diárias. “O único sentimento que alguém pode ter acerca de um evento que ele não vivenciou é o sentimento provocado por sua imagem mental daquele evento”, diz Lippmann. Entre os seres humanos e o ambiente real, há a presença marcante dos pseudo-ambientes dos quais o comportamento é uma resposta. Este comportamento-resposta, porém, se é uma ação, não opera evidentemente no mundo dos pseudo-ambientes onde foi estimulado, mas no ambiente real onde de fato as ações acontecem.

Em termos práticos, isso quer dizer que, de posse do controle das notícias, pode-se determinar em grande parte as respostas dos cidadãos, por meio da geração destes pseudo-ambientes. Para determinar ações ou sentimentos específicos nos indivíduos, portanto, basta ater-se à forma como é construída a imagem do objeto e torná-lo socialmente válido. Ou seja, se as ações fossem respostas à realidade, seria muito difícil determinar ações, pois é impossível mudar os fatos dos quais as ações são a resposta. Esta é como se vê uma explicação lógica da mentira sistematizada.

Lippman foi membro da Sociedade Fabiana na juventude até se desiludir com o socialismo por não concordar com a ideia da luta de classes, embora aceitasse a sua existência na realidade. A imagem mental da ideia de luta de classes fomentaria o caos e a desordem, coisa tida como inevitável para os socialistas. Ele queria que a sociedade fosse controlada para a democracia e a ordem e via no marxismo ortodoxo um entrave à paz, apesar de concordar com a doutrina marxista quanto à economia. Não é a toa que Lippmann é um dos honoráveis fundadores do Council of Foreign Relations (CFR), em 1919, uma das mais atuantes entidades de influência da opinião pública no mundo. Com o CFR, o sonho de Lippmann e de muitos intelectuais fabianos estava mais perto de ser realizado.

Engenharia do consentimento
Edward Bernays trabalhou para o presidente norte-americano Woodrow Wilson e foi o responsável pela legitimação pública que o governo teve para entrar na guerra contra a Áustria, em 1917.

Então com apenas 27 anos, o exitoso assessor ficou a imaginar que resultados teriam estas técnicas de controle da opinião pública se aplicados em tempos de paz. Foi então que Bernays, retornando aos EUA, passou a trabalhar para grandes empresas na profissão que ele mesmo inventara. Assim, o jovem assessor criou grande parte da cultura que conhecemos, ao desvincular o consumo da necessidade, ligando-o aos desejos humanos expressados na esfera simbólica, a partir da aplicação massiva das teorias do seu tio Freud. Um ano após o lançamento do livro de Lippmann, coube a Bernays a tarefa de criar a profissão de relações públicas, o profissional encarregado de fomentar agendas públicas consonantes com objetivos políticos de seus assessorados. A profissão surgiu a partir do livro 'Cristallizing Public Opinion', de 1923, a partir das técnicas já utilizadas por Bernays.

A liberdade de expressão, dizia Bernays em seu artigo célebre 'A engenharia do consentimento', “expandiu a carta de direitos americanos para incluir o direito à persuasão”. Este foi o resultado da inevitável expansão da mídia e da livre expressão, como ele afirmou. “Qualquer um de nós pode, por meio dessas mídias, influenciar as atitudes e ações de nossos companheiros cidadãos”, diz Bernays. E recomenda: “o conhecimento de como usar esse enorme sistema de amplificação torna-se uma preocupação primária para aqueles interessados em uma ação socialmente construtiva”.

Baseado então nos pressupostos de Lippmann, Bernays pensa ser possível desenvolver técnicas de persuasão apoiadas no conhecimento da psicologia humana. Embora os resultados dos estudos de Bernays tivessem sido usados por Joseph Goebbels, o famoso publicitário do nazismo, segundo ele próprio admitira, os objetivos de Bernays estavam em consonância com os princípios democráticos, como se vê:

“A engenharia do consentimento é justamente a essência do processo democrático, a liberdade de persuadir e sugestionar. As liberdades de expressão, imprensa, petição e reunião, as liberdades que fazem a engenharia do consentimento possível, estão entre as mais celebradas garantias da Constituição dos Estados Unidos”.

Através do processo educacional, assegura Bernays, os governos devem conceder ao seu público um entendimento sobre os problemas para tomarem suas decisões. Mas a engenharia do consentimento, alerta ele, não deve confundir-se com o sistema educacional, pois deve completá-lo e ir além dele, já que se direciona à ação e não simplesmente à compreensão de determinadas situações. A engenharia do consentimento deve, portanto, suprir as lacunas do sistema educacional na determinação de ações.

Bernays alerta para os perigos de que suas técnicas sejam subvertidas e usadas para fins antidemocráticos. Por isso, “o líder responsável, de modo a realizar objetivos sociais, deve estar constantemente alerta às possibilidades de subversão”. Ironicamente, um exemplar bastante conhecido deste “líder responsável”, assessorado por um de seus discípulos involuntários, levou o povo alemão a bater continênica para as atrocidades de Hitler.

Apesar do relativo sucesso da campanha nazista nos meios de comunicação da época (campanha até hoje considerada erroneamente pioneira na propaganda), Bernays salienta que a persuasão encontra o seu terreno fértil nas democracias liberais, “onde a livre comunicação e a competição de ideias no mercado são permitidas”. As democracias, portanto, funcionam bem à persuasão já que são as suas garantidoras por natureza. Estes sistemas, portanto, que constituem a base da política ocidental, se tomados como valores em si, servem a uma variada gama de objetivos, incluindo aqueles contra os quais o sistema mesmo busca ser uma defesa. Basta que a palavra democracia seja esvaziada de seu significado e substituído por outro, tática bastante simples e usual, para que mudem os propósitos a que essas técnicas servirão.

Seguindo o próprio curso liberal capitalista, se as idéias socialistas estão vencendo a concorrência das idéias, é para lá que se dirige o fluxo de dinheiro e esforços para campanhas políticas e publicitárias, o que explica a hegemonia de discursos ecológicos e socialistas na totalidade dos partidos e de campanhas publicitárias de empresas capitalistas ocidentais.

As teorias da comunicação, especificamente as ligadas ao jornalismo, têm estudado exaustivamente o comportamento da imprensa e dos jornalistas, em busca de uma lógica na circulação de notícias, como mostram os estudos de agendamento da mídia. Mas são insuficientes se não levarem em conta a evolução dos estudos no campo da publicidade e das técnicas de consentimento e controle da opinião pública usadas há mais de um século por agências de inteligência, órgãos governamentais e institutos de pesquisas como o Instituto Tavistock, mantido por fundações internacionais. Hoje o consentimento político de caráter nacional ou empresarial deu lugar ao global e a criação de um discurso único que, por trás de todas as causas, trabalha para a acumulação de poder dos grupos ligados às Nações Unidas e sua agenda. Não deixa de ser estranho afirmar que aqueles estudos financiados por instituições como Rockefeller, Ford, entre outras, tinham somente uma curiosidade científica e nenhum interesse em descobrir técnicas de controle. Ainda mais ingênua nos parece essa afirmação se constatarmos que estas instituições hoje comandam os altos executivos das maiores empresas de mídia do mundo.

Os intelectuais globalistas, que como dissemos no início, são herdeiros daquela pequena burguesia revolucionária, órfã e saudosa do poder estatal, hoje controlam a opinião pública conduzindo-a como bem entendem e para os fins que deseja, sem que ninguém se oponha de forma eficiente nos mesmos termos, isto é, por influência simétrica na opinião pública. Neste sentido, a compreensão das suas técnicas e o seu reconhecimento na realidade deveria ser a primeira etapa para qualquer reação às campanhas de consentimento, já que elas atuam muitas vezes em terrenos simbólicos e até subliminares de significação.

Afinal, como afirmou Bernays, “a manipulação consciente e inteligente dos hábitos organizados e opiniões das massas é um elemento importante na sociedade democrática. Aqueles que manipulam este mecanismo oculto da sociedade constituem um governo invisível que é o verdadeiro poder do nosso país”.


Referências:

STEEL, Ronald. Walter Lippmann and the american century (1999)

TODD, Emmanuel. O louco e o proletário: filosofia psiquiátrica da história (1951);

LIPPMANN, Walter. Opinião Pública (1922).

MCCOMBS, Maxwell. A teoria da agenda (2009);

COLEMAN, John. O Instituto Tavistock de relações sociais.

BERNAYS, Edward. A engenharia do consentimento (1947): disponível em:
http://www.ip.usp.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=1927%3Av3n1a09-a-engenharia-do-consentimento&catid=340%3Arevista-transformacoes&Itemid=91&lang=pt

Cristian Derosa é jornalista.

http://www.midiasemmascara.org/artigos/desinformacao/13519-edward-bernays-e-o-controle-da-opiniao-publica.html