quinta-feira, 28 de março de 2013

Palestra do professor José Monir Nasser sobre o livro "Como ler livros"
Palestra do professor José Monir Nasser sobre o livro "O Trivium" da irmã Miriam Joseph

quinta-feira, 21 de março de 2013

Joe Egan - Back on the road

domingo, 17 de março de 2013



11/03/2013-03h00
Bigelow na linha de sombra




Vejo você escrevendo em seu gabinete. Você mora num bairro de classe média alta de São Paulo.

Pessoa sofisticada, você tem aquele sentimento que os outros são menos inteligentes do que você, sem deixar ninguém perceber porque está treinado a fingir modéstia.

Agora, imagine que você toma vinho, dá aulas e vê o olhar apaixonado das alunas brilhando ou o olhar convertido dos alunos acreditando piamente nos absurdos que você fala.

Mas você fala apenas absurdos simpáticos à sua própria vaidade ou à vaidade de quem ouve você. Quando ouvimos você falar ou lemos o que você escreve, temos certeza de que você é "ético".

A razão para existir esses intelectuais "para um mundo melhor" é fazer o mundo servir à vaidade deles e de quem se acha tão "ético" quanto eles.

A ética é a baixa escolástica contemporânea: todo mundo fala, mas todos sabem que é "papo furado". Dizer-se ético é "self-marketing".

Você viaja a Paris ou a destinos semelhantes e frequenta universidades, galerias de arte, concertos de música erudita (desculpe, sei que a palavra "erudita" trai meu preconceito contra músicas horrorosas "do povo").

Você recebe inclusive financiamentos públicos para algumas dessas viagens e para escrever livros. E, com isso, espalha pelo mundo as ideias delirantes que tem em seu gabinete.

Basicamente, essas ideias se caracterizam por não terem nada a ver com a realidade, mas portam aquele tipo de aparência que encanta: você é a favor de um mundo melhor e condena todo mundo que sabe que você mente.

Projetando a imagem de um coração puro indignado com a injustiça no mundo, às vezes você até esquece que, talvez, esteja processando alguém da família por um quarto e sala na Praia Grande ou em Higienópolis. Ou que trama contra inimigos ideológicos ou institucionais.

Claro, este fato concreto nada tem a ver com suas firmes ideias de que, se o mundo fosse como você acha, todos seriam felizes e não seriam necessários Exércitos, polícia, advogados, e, principalmente, pessoas que discordam de você.

As guerras acabariam, porque, óbvio, elas existem desde sempre apenas porque você ainda não tinha nascido no passado para iluminar a todos com sua "boa nova".

Ou, quem sabe, conseguiria calar a todos que não acreditam em você, aliás, como acontece normalmente com mimados e vaidosos como você.

Sim, vi o filme "A Hora Mais Escura", de Kathryn Bigelow. Brilhante. Há muito que desconfio que o cinema americano depende de cineastas mulheres para sobreviver à pobreza de espírito, pois grande parte dos homens ficou covarde.

O filme mostra tudo que existe para você e eu tomarmos vinho e viajarmos a Paris sem sermos explodidos por aí. Quem acha que o filme louva os "métodos" da CIA é porque não ainda atravessou aquela "linha de sombra" da qual faz referência o escritor Joseph Conrad: a linha que separa a infância da maturidade, ou, diria eu, que separa a vaidade da verdade.

O filme trata de pessoas que vivem na escuridão e com as mãos sujas, enquanto você posa de limpinho.

Compare este filme com o "Munique", de Steven Spielberg. "Munique" narra um suposto plano para matar os terroristas envolvidos na chacina dos atletas israelenses nas Olimpíadas alemãs.

Spielberg é um dos cineastas frouxos dos quais esperamos que Bigelow nos salve.

Em "Munique" o protagonista (líder do grupo) tem uma crise de consciência ao final e abandona "o barco" da espionagem israelense, se refugiando em Nova York. Muito típico de gente como você.

Compare esse final com o final da protagonista de "A Hora Mais Escura" (a ruiva deliciosa Jessica Chastain). Sozinha, "the girl" (como seus colegas da CIA se referem a ela ao longo do filme) tem um avião só pra ela.

O piloto do avião militar diz: "Você deve ser importante para mandarem um avião só pra você! Disseram para levar você para onde você quiser. Onde você quer ir?". Nossa deliciosa heroína não responde. Olha o vazio e derrama duas lágrimas. Um rosto sem vaidade.

Um filme para gente grande que sabe que o vinho nosso de cada dia custa mais do que o preço que pagamos.


Luiz Felipe Pondé, pernambucano, filósofo, escritor e ensaísta, doutor pela USP, pós-doutorado em epistemologia pela Universidade de Tel Aviv, professor da PUC-SP e da Faap, discute temas como comportamento contemporâneo, religião, niilismo, ciência. Autor de vários títulos, entre eles, "Contra um mundo melhor" (Ed. LeYa). Escreve às segundas na versão impressa de "Ilustrada".

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/1243934-bigelow-na-linha-de-sombra.shtml

sábado, 16 de março de 2013



Filodoxia (1)

Segundo Platão, o filodoxo distingue-se do filósofo porque o primeiro acredita que o Conhecimento não é possível, e a única coisa possível e plausível é a [sua] opinião. Um exemplo de um filodoxo muito conhecido foi Bertrand Russell, que através da sua ética, resumia-a à retórica política capaz de convencer as massas. Segundo Russell, a procura da verdade é uma tontice, e por isso a ética resulta somente da capacidade de convencermos os outros das nossas ideias, por mais abstrusas que estas sejam. Segundo Russell, se alguém conseguir convencer [por via da retórica e não por via da lógica] os outros de que um conceito é exactamente o seu contrário, a nova definição do conceito passa a fazer parte da ética validada. Hitler e Estaline não fizeram outra coisa.

Russell não era só um filodoxo; ele era essencialmente uma besta.

A filodoxia não implica a lógica, mas antes uma retórica baseada no princípio da inexistência da verdade. O filodoxo parte sempre do princípio de que não existirão nunca respostas às perguntas que se colocam [pelo menos a algumas delas], e por isso, impõe-se invariavelmente a força da simples opinião pessoal.

O filósofo pensa que todas as perguntas terão necessariamente uma resposta. Naturalmente que há filósofos com maior capacidade de resposta às perguntas colocadas, do que outros ― a inteligência não é igual em todos ―, mas a recusa da possibilidade de existirem perguntas sem resposta, caracteriza o filósofo. E uma vez que não podem existir perguntas sem resposta, todas as questões colocadas pelos outros são meticulosamente analisadas, o que implica que o filósofo não se feche dogmaticamente nas suas opiniões sacralizadas, mas o que não significa que assimile as opiniões dos outros sem uma crítica lógico-formal.

Outra característica do filodoxo é que invariavelmente toma a parte [a que lhe convém], pelo todo. Dou um exemplo:

Baseando-se na teoria da relatividade de Einstein, um filodoxo meu amigo disse-me que a própria ciência provou que todos os conceitos em que entrem determinações espaço-temporais se tornam relativos, e portanto, essa relatividade da natureza condiciona o próprio ser humano como observador da realidade. O relativismo ético-ideológico humano estaria, assim, intrinsecamente ligado à própria realidade natural e relativa cientificamente comprovada.

Contudo, esse filodoxo recusou-se a incluir nas suas cogitações o facto de a teoria da relatividade admitir a existência de leis, expressas por equações diferenciais, que permitem passar de um sistema de referência para outro ― o que significa que se não existe uma uniformidade dos fenómenos na própria realidade, existem contudo leis físicas que permitem relacionar fenómenos percebidos de forma diferentes [vide Fenomenologia: “intersubjectividade”]. A esta capacidade de relacionação dos fenómenos percebidos subjectivamente [relativisticamente], consiste a Razão. Portanto, tudo aquilo que “é relativo” só o é na ausência da Razão, isto é, o relativismo entendido como sendo desprovido de uma super-estrutura que o regule, é irracional.

De certa maneira, um filodoxo é um céptico em relação a todas as ideias excepto em relação às suas próprias ideias; o filósofo é um céptico em relação às ideias dos outros e em relação às suas próprias ideias, mas não duvida que as respostas às perguntas indicam o caminho que conduz à verdade.

http://espectivas.wordpress.com/2009/03/23/filodoxia-1/
Por que a esquerda é co-responsável pela criação de uma cultura de violência contra professores nas salas de aula de escolas públicas?

Banheiros incendiados, paredes destruídas e armas apreendidas se misturam a hematomas, fratura e depressão. Só na capital paulista mais de 70 mil servidores da educação estão afastados em consequência de estresse. Mas este não é um problema exclusivo da rede pública. Marcados pela violência, muitos dos que sonharam dedicar a vida ao ensino abandonam a carreira.

Meus comentários

Claro que nem todo professor é esquerdista, embora as escolas sejam um território para este tipo de doutrinação. Eu seria injusto (e faltaria com a verdade) se dissesse que todo professor é um ator na estratégia gramsciana. Existem muitos professores que não compactuam com o esquerdismo e estão fora desta minha análise.

Mas não posso deixar de notar a ironia ao ver que no ambiente escolar, onde se criou uma cultura de esquerdismo que contaminou a sociedade (com esta cultura sendo convertida em políticas públicas esquerdistas), professores tem sofrido as consequências do monstrinho criado por lá.

Em uma cultura de humanismo/esquerdismo, as pessoas que vivem sob este paradigma não estão mais aptas a acharem culpas em seus atos, logo são sempre inocentes de forma apriorística, em sua visão de mundo. Se a culpa está sempre no outro (geralmente o da “outra classe”, em termos marxistas), um comportamento beirando a sociopatia, mesmo em pessoas que não tenham nascido psicopatas, é o esperado.

Como se isso não fosse o suficiente, ainda temos o culto às escolas públicas, onde pessoas são lançadas em um ambiente onde recebem em muitos casos uma educação vagabunda, apenas por mera formalidade (e não aprendem absolutamente nada), de forma a aumentar o “count” de pessoas que recebem “a educação”. Assim como nos Estados Unidos, a educação pública, na maioria dos casos, é uma ilusão.

Um sistema de vouchers, no qual os alunos disciplinados tivessem a garantia de estudarem em escolas particulares, poderia ser muito mais salutar. Este tipo de voucher poderia ser fornecido de acordo com a disciplina do aluno para escolas de graus diferentes de nível e custo, de modo que existiriam opções para muitos. E, em caso de escolas particulares, o aluno poderia ser expulso, portanto teria que ter um comportamento adequado. Mas, é claro, esquerdistas arrepiarão ao ouvir uma proposta assim, e olhem que nem estou defendendo a extinção de escolas públicas, mas a priorização por outros modelos.

Seja na criação de um sistema de escolas públicas falido, como na criação de uma cultura de pessoas que jamais aceitam suas culpas, esquerdistas contribuíram para tornar o ambiente escolar público praticamente um inferno. Algumas boas cabeças que lá adentram serão, aos poucos, corrompidas pelas maçãs podres, que, em caso de menoridade, não podem nem sequer receber punição.

Só é uma pena que existam professores não-esquerdistas que sejam agredidos, pois os não-esquerdistas não buscaram criar uma sociedade de pessoas “inocentes por princípio”, e portanto mentalmente formatadas para fazerem o que lhes der na telha. Longe de eu defender a agressão a professores esquerdistas (que, como cidadãos, também devem ser protegidos pela lei de serem agredidos), mas pelo menos no caso de agressão a estes eu poderia dizer-lhes: “Ei, solidarizo-me com o que lhe ocorreu, mas você é co-responsável por isso…”

http://lucianoayan.com/2013/03/16/por-que-a-esquerda-e-co-responsavel-pela-criacao-de-uma-cultura-de-violencia-contra-professores-nas-salas-de-aula-de-escolas-publicas/

quarta-feira, 6 de março de 2013


Billie Jean

Escrito por Ricardo Hashimoto | 05 Março 2013
Artigos - Cultura



O controle psicológico, por meio da educação, da mídia, da gestão de empresas e do controle social, conduz a uma sociedade igualmente totalitária, na qual os modos primitivos de controle foram substituídos por técnicas não aversivas.




Em seu hit Billie Jean, Michael Jackson canta “Be careful of what you do ‘cause the lie becomes the truth” (Cuidado com o que você faz, porque a mentira vira verdade). Ou, como se dizia antigamente, “quem não vive conforme pensa, acaba pensando conforme vive”.

Boas frases para definir a “dissonância cognitiva”, técnica de manipulação psicológica em que, por exemplo, o manipulador constrange você, num contexto de liberdade relativa, a agir contra os seus princípios, o que faz com que você modifique os seus valores para diminuir a tensão que o oprime.

Esta e diversas outras formas de engenharia comportamental – friamente concebidas e cruelmente aplicadas, destinadas à lavagem cerebral – são descritas por Pascal Bernardin no livro
Maquiavel Pedagogo, importante lançamento das editoras Vide Editorial e Ecclesiae, obra imprescindível para quem quer entender por que o sistema educacional mundial (com raríssimas exceções) não tem mais o objetivo de ensinar (o ensino, agora, deve ser “não cognitivo”), mas de servir de instrumento de uma revolução cultural e ética cujo propósito é mudar os valores e criar o cidadãozinho bem-comportado da Nova Ordem Mundial (leia-se ditadura global).

Amplamente documentado, o livro mostra como UNESCO, Conselho da Europa, Comissão de Bruxelas e OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) promovem uma revolução pedagógica visando criar uma nova sociedade, numa sofisticada reapresentação da utopia comunista (não devemos nunca nos esquecer do aviso de Fátima: “a Rússia espalhará os seus erros pelo mundo”). A partir de uma mudança de valores, da manipulação da cultura e da modificação das atitudes e dos comportamentos pretende-se fazer a revolução psicológica e, ulteriormente, a revolução social.

Para atingir este objetivo são usados os resultados de pesquisas pedagógicas obtidos pelos soviéticos e pelos criptocomunistas norte-americanos e europeus. São utilizados métodos ativos para inculcar, nos estudantes (e, de modo mais geral, em toda a sociedade), valores, atitudes e comportamentos definidos de antemão. Os traços mais relevantes dessa revolução pedagógica são: testes psicológicos (em grande escala), subordinação do ensino livre, anulação da influência da família e informatização mundial das questões do ensino e o censo de toda a população escolar e universitária.

Assim deve ser, segundo tais planejadores, a educação futura: para a massa, o ensino não cognitivo, pura doutrinação esvaziada de toda substância intelectual; para a elite, uma verdadeira formação intelectual necessária ao trabalho mental (não isenta da doutrinação comuno-globalista). Tudo isso visando criar a sociedade dual, em que só existirão duas classes: dirigentes e dirigidos, elite e povo, senhores e escravos.

É este o objetivo do livro: demonstrar que não existe qualquer contradição entre democracia aparente e socialismo (ante-sala do comunismo, segundo Olavo de Carvalho). O socialismo não é um sistema econômico, mas um sistema social, que pode acomodar-se ao capitalismo, para dele se livrar, se necessário, quando a revolução psicológica tiver sido concluída. O controle psicológico, por meio da educação, da mídia, da gestão de empresas e do controle social, conduz a uma sociedade igualmente totalitária, na qual os modos primitivos de controle foram substituídos por técnicas não aversivas, das quais o povo não tem conhecimento. Manipulado, ele não percebe que o seu comportamento é controlado, de modo diverso, com mais eficácia do que num sistema totalitário, no qual a sua revolta latente haveria de lhe garantir a sua última proteção psicológica.

Não se deixe manipular – leia urgentemente este livro. (Que, a bem da verdade, devia ter chegado antes, pois o original é de 1995. Mas, antes tarde do que nunca. Parabéns à Vide Editorial e à editora Ecclesiae.)

E, acima de tudo, viva conforme pensa, senão... (Be careful of what you do, otherwise...).


Ricardo Hashimoto é engenheiro e coach.

http://www.midiasemmascara.org/artigos/cultura/13913-billie-jean.html

domingo, 3 de março de 2013



Doutrinação Ideológica Escolar:
Apostila Objetivo 2012


Escrito por Klauber Cristofen Pires | 02 Março 2013
Artigos - Educação

Mais um atento - e atencioso - leitor, o estudante Gustavo Milano Beserra, trouxe-nos uma nova denúncia sobre doutrinação ideológica em livros didáticos. Desta vez, trata-se da apostila pré-vestibular do curso Objetivo 2012.

Meus caros - façam assim mesmo como ele fez: fotografou as páginas e destacou os trechos considerados tendenciosos com caneta marca-texto.

E agora, sem delongas, vejamos o que diz a apostila, a começar pela página 54, transcrito abaixo:



"Além de fornecer os funcionários preferidos ao Estado, o clero encarregou-se de fazer a análise das relações sociais do feudalismo. Insistia que a sociedade tinha um caráter estático por determinação divina, cabendo a cada um viver dentro da posição que lhe fora determinada por Deus. Essa visão enquadrava-se perfeitamente dentro dos interesses dominantes do mundo feudal."

Agora teremos um caso recorrente de como um único parágrafo contendo inverdades muitas vezes exige uma longa exposição refutativa. Comecemos a avaliá-lo não por sua substância, mas pelo seu espírito: o que temos acima é uma versão da história revisada segundo a teoria marxista da superestrutura e da infraestrutura. Notem como a desonestidade intelectual já se infiltra, sorrateiramente!

Karl Marx defendia que a “infraestrutura”, isto é, o modo de produção dos meios materiais de existência, condiciona todo o processo da vida intelectual, social e política, ou seja, a “superestrutura”, sendo esta, por sua vez, não mais que um conjunto de discursos cujas intenções remetem à defesa dos interesses da classe dominante.

Para refutar tamanha bobagem, cito Ludwig von Mises, Olavo de Carvalho e Nivaldo Cordeiro:


De Mises:


É um paradoxo afirmar que uma doutrina falsa possa ser mais útil do que uma doutrina correta.

Os homens usam armas de fogo. Para aprimorá-las, desenvolveu-se a balística. Mas é claro que, precisamente porque desejavam uma maior eficácia, fosse para caçar animais, fosse para se matarem uns aos outros, procuraram desenvolver uma teoria balística correta. De nada serviria uma balística meramente "ideológica".


De Olavo de Carvalho:


Como será que, pensando por exemplo na embriologia dos gatos ou na lei de queda dos corpos, posso produzir um discurso que, no fim das contas, nada diz sobre gatas prenhes ou bolas que caem, mas apenas afirma o direito que minha classe social tem de viver no bem-bom à custa da exploração das outras classes?

De Nivaldo Cordeiro:


O fundamental é que ocorre precisamente o contrário da primeira assertiva – a de que a infraestrutura determina a superestrutura. Não é casual que o capitalismo é gestado no Ocidente judeu-cristão e isso Marx não poderia ter colocado em evidência, tão prisioneiro que estava em seus esquemas mentais de ódio a tudo que fosse religioso.
...

A notável contribuição de Peyrefitte é deslocar a discussão da Economia para a Etologia na definição do determinante para a decolagem do processo de desenvolvimento. O fundamental é a criação de um ambiente de confiança na relação entre os indivíduos e o Estado e entre os próprios indivíduos.

Vamos agora à matéria: será verdadeiro que a Igreja Católica se ocupava de manter a sociedade em um permanente estado estático para defender os interesses dominantes do feudalismo? Aos fatos:

O método das partidas dobradas, que até os dias atuais estrutura toda a Contabilidade, foi criado pelo monge franciscano Luca Pacioli, em 1494. A “solmização”, ou seja, a nomenclatura das notas musicais – dó, ré mi, fa, sol, la si, foi criada pelo monge Guido A’rezzo, no séc. XI. O Professor Thomas Woods Jr (Como a Igreja Católica construiu a civilização ocidental – Ed. Quadrante) nos revela que, ao longo do medievo, os monges e Padres drenaram os pântanos europeus, irrigaram terras secas e trataram das rochosas e montanhosas, transformando-os em lugares sãos para moradia e prósperos para a agricultura e criação de animais. Foram os pioneiros na produção de vinho, cerveja e mel, e inventaram queijos, bebidas (olha o champagne aí, gente) e métodos de conservação de alimentos. Exploraram a energia hidráulica e levaram água potável para as cidades. No Século XI, um monge chamado Eilmer voou mais de 180 metros em um planador. O primeiro relógio que se tem notícia foi criado pelo futuro Papa Silvestre II, aproximadamente no ano 996. Pesquisas antropológicas em ruínas de altos-fornos construídos pelos monges revelaram uma quantidade muito baixa de ferro, comparável aos dos dias atuais, o que testemunha seus elevados conhecimentos de metalurgia. Os jesuítas contribuíram para o desenvolvimento dos relógios de pêndulo, pantógrafos, barômetros, telescópios refletores e microscópios, e trabalharam em campos científicos tão variados como o magnetismo, a ótica e a eletricidade. Observaram, em muitos casos antes de qualquer cientista, as faixas coloridas na superfície de Júpiter, a nebulosa de Andrômeda e os anéis de Saturno (p. 94 e 95). Estudaram a circulação sanguínea, as marés e introduziram os sinais mais e menos na matemática. Os princípios jurídicos do Devido Processo Legal, do contraditório e da ampla defesa provém do Direito Canônico, e a teoria econômica subjetiva do valor teve sua semente plantada pelos escolásticos tardios espanhóis. Basta? Pois tomem o tiro de misericórdia: foi a Igreja Católica quem inventou o sistema universitário e com ele o princípio da autonomia acadêmica. Segundo o Professor Thomas Woods Jr, obra citada:

Nos Tempos da Reforma, havia oitenta e uma universidades. Trinta e três delas possuíam estatuto pontifício; quinze estatuto real ou imperial; vinte gozavam de ambos, e treze não tinham nenhuma credencial (p. 47)

Possuir estatuto pontifício significava que os diplomas dos bacharéis eram aceitos como válidos em toda a cristandade, ao passo que o estatuto real ou imperial conferia o reconhecimento dos diplomas dentro das fronteiras nacionais.

Agora, responda quem for capaz: Como poderia ser estática uma sociedade com tantas universidades - e universidades onde professores e alunos estudavam verdadeiramente - e tantas invenções?


Sigamos avante, agora à página 55:


“Não podemos esquecer o fato de que a Igreja foi a grande mantenedora da cultura durante o Período Feudal, apesar de o fazer de forma que justificasse suas ideias e dogmas”.

Notemos o erro de concordância “apesar de o fazer” com “foi a grande mantenedora...” . Estamos falando aqui de uma apostila de pré-vestibular! Ora, mas que preciosismo de minha parte, não é mesmo?

Voltemo-nos então ao cerne da questão, mas antes aqui permitam-me apresentar o que chamo de paradoxo da teoria marxista dos conceitos de infra-estrutura e superestrutura: em uma sociedade livre, como a Ocidental, é certo admitir que certos discursos pretendam defender interesses, seja de forma ostensiva ou dissimulada. O erro de Karl Marx, além de ter olhado o cu da minhoca e concluir ter ali visto sua cabeça, foi sentenciar unilateralmente que todo e qualquer discurso seja eivado de intenções inconfessas de um pensamento classista por parte do interlocutor. Tome-se por exemplo primordial sua própria biografia, eis que o barbudão jamais foi operário. Todavia, a história nos tem mostrado que o contrário é que é verdadeiro, ou seja, que absolutamente toda e qualquer forma de pensamento expressa nos diversos regimes socialistas sempre foi submetida ao prévio crivo censor ideológico. Portanto, é justo afirmar que nos regimes socialistas prevalece, sim, a existência de uma rígida “superestrutura” que tem por único objetivo manter a “infraestrutura” do sistema de produção coletivista estatal.

Bem diferentemente, a Igreja Católica desenvolveu a escolástica, um método que consistia fundamentalmente em contrapor e defender com toda a honestidade possível todos os prós e contras acerca de qualquer teoria.

Assim nos ilustra Thomas Woods Jr:

Contrariando a impressão geral de que as pesquisas estavam impregnadas de pressupostos teológicos, os estudiosos medievais tinham um grande respeito pela autonomia de tudo quanto se referisse à filosofia natural,...

Edward Grant (Deus e a razão na Idade Média, apud Woods), p. 53:

“exigia-se dos filósofos naturais das faculdades de artes que se abstivessem de introduzir teologia e temas de fé na filosofia natural”

Mais ainda, de Woods:

Um irmão dominicano pediu a Alberto Magno, o mestre de São Tomás de Aquino, que escrevese um livro de física que os pudesse ajudar a entender as obras de física de Aristóteles. Temendo que esperassem um trabalhgo entremeado de ideias teológicas, Alberto magno rejeitou antecipadamente a ideia, esclarecendo que as ideias teologicas pertencviam aos tratados de teologia, e não aos de física. P. 54/55.

Vamos em frente? Peguemos a página 73:



A Contrarreforma

“Conjunto de medidas destinadas a combater o protestantismo, por meio da educação, da catequese e da Inquisição. No primeiro caso, o que se pretendia era difundir o ensino nas regiões atingidas pela Reforma, de modo a recuperar pelo menos as novas gerações. No segundo caso, a intenção era conseguir novos adeptos para a Igreja nas terras recém-descobertas no Novo Mundo; neste caso, converter os índios era uma maneira de combater os protestantes. Finalmente cabia à Inquisição (Ou tribunal do Santo Ofício) perseguir, nos países que ainda não tivessem sido dominados pela Reforma, os adeptos das novas doutrinas. A perseguição era feita de maneira cruel e servia aos propósitos do poder político nos Estados em que ela se realizou (Espanha, Portugal e Itália).”

Expor ao estudante leigo um fenômeno complexo como o foi a Contrarreforma com o simplismo maniqueísta do parágrafo acima remete-nos novamente ao flagrante da desonestidade intelectual.

Os autores citam a educação e a catequese com a denotação de ilegítimas, antiéticas, imorais e reacionárias. Desde quando transmitir ideias pacificamente pode ser considerado imoral ou ilegítimo? Ora, a Igreja sempre se imbuiu de sua função missionária, porquanto este parágrafo dá a entender, absurdamente, que passaram a ser realizadas como uma resposta aos movimentos protestantes. No Brasil, milhares de indígenas foram libertados da ignorância neolítica e abandonaram costumes bárbaros como o infanticídio e a antropofagia para se tornarem seres humanos civilizados, produtivos e pacíficos, e os jesuítas aqui não se armavam mais do que com a Bíblia e outros livros, tendo acontecido até mesmo o caso de alguns terem virado almoço.

Quanto a servir “aos propósitos do poder político nos Estados em que ela se realizou (Espanha, Portugal e Itália)”, vale lembrar que a história é repleta de casos que testemunham justamente o contrário: o Padre dominicano Francisco de Vitoria (1485-1546), que foi quem começou a tradição escolástica espanhola de denunciar a conquista e particularmente a escravização dos índios pelos espanhóis no Novo Mundo; em 1598, o Padre Juan de Mariana publicou sua obra De rege et regis institutione (Sobre o rei e a instituição real), na qual ele afirmava que qualquer cidadão poderia justificadamente matar um rei que criasse impostos sem o consentimento das pessoas, confiscasse a propriedade dos indivíduos e a desperdiçasse, ou impedisse a reunião de um parlamento democrático; o rei Henrique VIII fundou o Anglicanismo porque foi desautorizado pelo Papa Clemente VII a divorciar-se de Catarina; e sem esgotarmos os nossos exemplos, cito ainda o Marquês de Pombal, que desapropriou inúmeras terras e edifícios da Igreja Católica (entre os quais cito o Convento dos Mercedários, em 1794, onde hoje funciona a Alfândega do porto de Belém) e substituiu compulsoriamente o ensino religioso pelo ensino estatal, o que gerou a revolta e inconformidade de praticamente toda a sociedade.

Quanto à legação de uma sanha persecutória e violenta aos adeptos das novas doutrinas, recorro ao filósofo Olavo de Carvalho, que nos ensina, por seu artigo
Ludibriando os católicos:

Não deixa de ser útil lembrar que a Igreja, desde sua fundação, teve de lutar menos contra os seus inimigos ostensivos do que contra os seus falsificadores. Tal é, aliás, a definição de "heresia", palavra que hoje tantos usam sem conhecer-lhe o significado: não qualquer doutrina anticatólica, ou não católica, e sim a falsa doutrina católica oferecida indevidamente em nome da Igreja. Lembrem-se disso quando algum professorzinho aparecer alardeando que a Igreja "perseguia doutrinas adversas". Heresia não é divergência de idéias, é crime de fraude. Da Antigüidade até hoje, gnósticos, arianistas e tutti quanti jamais hesitaram em fingir-se de católicos para vender, sob roupagem inocente, as idéias mais opostas e hostis aos ensinamentos de Cristo. Com freqüência, obtiveram nesse empreendimento sucessos espetaculares, embora passageiros. Ainda no século XIX praticamente todos os seminários da França e da Alemanha ensinavam, com o nome de teologia católica, uma pasta confusa de idéias cartesianas, iluministas e românticas, na qual os jovens aprendizes, iludidos pelos prestígios intelectuais do dia, não enxergavam nada de maligno. Foi só a decisiva intervenção do Papa Leão XIII que acabou com a palhaçada, mediante a bula "Aeterni Patris" (1879), que restaurou o ensino da teologia católica tradicional. Se quiserem uma boa resenha desses fatos, leiam a obra em quatro volumes de Etienne Couvert, "De la Gnose à l'Ecumenisme" (Éditions de Chiré, 1989). (Os grifos são meus.)

Já Marcelo Moura Coelho, em
Sofismas Seculares, esclarece brilhantemente o papel da Inquisição, do qual transcrevo abaixo os excertos mais importantes:

A Inquisição foi criada no séc. XII. Qualquer um que conhece um pouco de História sabe que os onze primeiros séculos da era cristã foram recheados de heresias, como o nestorianismo, o monofisismo e o arianismo. Contra esses grupos, a Igreja aplicava apenas penas espirituais. Ora, se a heresia dos cátaros não foi a primeira nem em termos cronológicos, nem em importância, por que, então, a Inquisição foi criada para combatê-la? Por que foi a primeira vez que penas físicas foram aplicadas? Porque, como eu falei em meu outro artigo, mais que mera heresia doutrinária, os cátaros eram um problema de Estado.

“Considerando a matéria por si os cátaros rejeitavam não somente a face visível da lgreja, mas também instituições básicas da vida civil - o matrimônio, a autoridade governamental, o serviço militar - e enalteciam o suicídio. Destarte constituíam grave ameaça não somente para a fé cristã, mas também para a vida pública... Em bandos fanáticos, às vezes apoiados por nobres senhores, os cátaros provocavam tumultos, ataques às igrejas, etc., por todo o decorrer do séc. XI até 1150 aproximadamente, na França, na Alemanha, nos Países-Baixos...”

“As heresias que surgiram no século XI (as dos cátaros e valdenses), deixavam de ser problemas de escola ou academia, para ser movimentos sociais anarquistas, que contrariavam a ordem vigente e convulsionavam as massas com incursões e saques. Assim, tornavam-se um perigo público”.

Por causa disso, “O povo, com a sua espontaneidade, e a autoridade civil se encarregavam de os reprimir com violência: não raro o poder régio da França, por iniciativa própria e a contra-gosto dos bispos, condenou à morte pregadores albigenses, visto que solapavam os fundamentos da ordem constituída”.

Isso sem contar os casos de monarcas que eram inimigos da Igreja, como Frederico II e Henrique II, que combateram as heresias ferozmente, na maior parte dos casos, para ganhar os bens que eram confiscados dos hereges. Está aí, portanto, de maneira clara, diria até cristalina, que a Igreja nunca desejou a morte de quem, simplesmente, dela discordasse. Da situação exemplificada por esses monarcas tira-se outra conclusão: a de que o poder civil estava matando hereges sem qualquer tipo de julgamento. Não tenho dúvidas de que se a Igreja nada tivesse feito, hoje Ela seria acusada de omissão.

Antes da Inquisição, os cátaros eram mortos sem qualquer julgamento pelos nobres ou linchados pela própria população. Às vezes bastava a mera suspeita de heresias para que o acusado fosse linchado. Depois da Inquisição foi criado um procedimento (que, aliás, ainda é praticamente o mesmo que é utilizado em inquéritos policiais no mundo ocidental), onde se coletavam provas sobre o envolvimento da pessoa em heresias e lhe concedia o direito de se defender.

Nesse ponto, minha opinião sobre a Inquisição é semelhante à opinião que o filósofo Olavo de Carvalho, editor deste site, tem sobre a ditadura militar brasileira. O filósofo diz que frente à situação que se montava na época, praticamente de pré-guerra civil, a ditadura militar, apesar de todas as suas falhas, foi melhor que o banho de sangue que ocorreria se a guerra civil se tornasse uma realidade.

Claro que, apesar do procedimento criado pela Inquisição ser justo na maioria das vezes, ocorriam injustiças, fato, aliás, que é notório para a própria Igreja, já que Ela mesma ensina, alicerçada nos ensinamentos de Cristo, que todos nós somos pecadores (incluindo o presidente Lula que diz ser um homem sem pecado). Mas, ao contrário do mito, as injustiças são a minoria dos casos. Além disso, ao contrário do que Cristaldo pensa, os inquisidores não eram pessoas com instinto homicida que saíam por aí matando hereges. Bernard de Gui, um dos mais famosos e severos inquisidores escreveu que:

“O Inquisidor deve ser diligente e fervoroso no seu zelo pela verdade religiosa, pela salvação das almas e pela extirpação das heresias. Em meio às dificuldades permanecerá calmo, nunca cederá à cólera nem à indignação... Nos casos duvidosos, seja circunspecto, não dê fácil crédito ao que parece provável e muitas vezes não é verdade, - também não rejeite obstinadamente a opinião contrária, pois o que parece improvável freqüentemente acaba por ser comprovado como verdade... O amor da verdade e a piedade, que devem residir no coração de um juiz, brilhem nos seus olhos, a fim de que suas decisões jamais possam parecer ditadas pela cupidez e a crueldade”.

A ausência de instinto homicida nos inquisidores também é defendida por James Hitchcock, professor de história na Universidade de Saint Louis que, baseado nos livros, Inquisition de Edward Peters, The Roman Inquisition and the Venetian Press de Paul F. Grendler, The Prosecution of Heresy de John Tedeschi e The Spanish Inquisition de Henry Kamen, afirma que os inquisidores eram legisladores e burocratas profissionais que se aderiam a regras e procedimentos, ao invés de se deixarem levar por sentimentos pessoais. Além disso, os procedimentos em si não eram injustos e os veredictos que se seguiam geralmente eram justos. As torturas eram usadas apenas num pequeno número de casos. As condenações à morte foram dadas em apenas 2% dos casos.

Por fim, apresento aos leitores o cúmulo da safadeza, à página 135:

“Cristo e Marx, dois judeus, pregavam a igualdade entre os homens e a resignação, ideias que Hitler considerava nocivas ao povo alemão.”

Eu francamente desejaria não ter de estender-me ainda mais para refutar uma afirmação tão ridícula. E olhem, mais uma vez, como pequenas idiotices nos consomem tantas pautas para serem desmascaradas.

Para começar, nem Jesus nem Marx foram judeus, no sentido étnico-religioso. Ao contrário, o Cristo nos trouxe a Revelação, que contrariou a tradição dos doutos da lei e que por isto mesmo lhe custou o madeiro infame. Quanto a Karl Marx, este homem era ateu e dedicou-se no último quartel de sua vida ao culto de rituais satânicos. Mormente, nenhum dois pregava a igualdade, pelo menos a igualdade material, como pretendem sugerir os autores: Cristo pregava a igualdade espiritual, isto é, a Graça de todo ser humano perante Deus, enquanto Karl Marx pregava a revolução operária, tendo várias vezes defendido o extermínio de mexicanos, irlandeses, poloneses e outros que não tivessem ainda alcançado a etapa capitalista. Os pobres, estes eram “lixo” (lumpen). Finalmente nenhum dos dois era resignado nem pregou a resignação. Cristo ensinou sim a mansidão e a paciência, mas não a resignação niilista e fatalista. Karl Marx, por sua vez, pregou a revolução violenta, a ditadura do proletariado e o extermínio de raças inferiores e dos indivíduos incapazes ou de qualquer modo inúteis para o estado.

Prezados pais e mães, professores e alunos, e leitores interessados: esta crítica não foi exaustiva. Há ainda outras páginas que omiti por razões de espaço ou porque a doutrinação ideológica estava tão bem dissimulada que me exigiria um verdadeiro exercício para desenovelá-la.

Contudo, o que se apresentou, creio ter sido o bastante para alertar sobre as más intenções dos autores. Nós precisamos acabar com isto! A mera divulgação deste artigo por quem se dispuser a tal mister já é de um grande auxílio para pormos fim à doutrinação ideológica escolar.


http://www.midiasemmascara.org/artigos/educacao/13904-doutrinacao-ideologica-escolar-apostila-objetivo-2012.html