sábado, 16 de março de 2013



Filodoxia (1)

Segundo Platão, o filodoxo distingue-se do filósofo porque o primeiro acredita que o Conhecimento não é possível, e a única coisa possível e plausível é a [sua] opinião. Um exemplo de um filodoxo muito conhecido foi Bertrand Russell, que através da sua ética, resumia-a à retórica política capaz de convencer as massas. Segundo Russell, a procura da verdade é uma tontice, e por isso a ética resulta somente da capacidade de convencermos os outros das nossas ideias, por mais abstrusas que estas sejam. Segundo Russell, se alguém conseguir convencer [por via da retórica e não por via da lógica] os outros de que um conceito é exactamente o seu contrário, a nova definição do conceito passa a fazer parte da ética validada. Hitler e Estaline não fizeram outra coisa.

Russell não era só um filodoxo; ele era essencialmente uma besta.

A filodoxia não implica a lógica, mas antes uma retórica baseada no princípio da inexistência da verdade. O filodoxo parte sempre do princípio de que não existirão nunca respostas às perguntas que se colocam [pelo menos a algumas delas], e por isso, impõe-se invariavelmente a força da simples opinião pessoal.

O filósofo pensa que todas as perguntas terão necessariamente uma resposta. Naturalmente que há filósofos com maior capacidade de resposta às perguntas colocadas, do que outros ― a inteligência não é igual em todos ―, mas a recusa da possibilidade de existirem perguntas sem resposta, caracteriza o filósofo. E uma vez que não podem existir perguntas sem resposta, todas as questões colocadas pelos outros são meticulosamente analisadas, o que implica que o filósofo não se feche dogmaticamente nas suas opiniões sacralizadas, mas o que não significa que assimile as opiniões dos outros sem uma crítica lógico-formal.

Outra característica do filodoxo é que invariavelmente toma a parte [a que lhe convém], pelo todo. Dou um exemplo:

Baseando-se na teoria da relatividade de Einstein, um filodoxo meu amigo disse-me que a própria ciência provou que todos os conceitos em que entrem determinações espaço-temporais se tornam relativos, e portanto, essa relatividade da natureza condiciona o próprio ser humano como observador da realidade. O relativismo ético-ideológico humano estaria, assim, intrinsecamente ligado à própria realidade natural e relativa cientificamente comprovada.

Contudo, esse filodoxo recusou-se a incluir nas suas cogitações o facto de a teoria da relatividade admitir a existência de leis, expressas por equações diferenciais, que permitem passar de um sistema de referência para outro ― o que significa que se não existe uma uniformidade dos fenómenos na própria realidade, existem contudo leis físicas que permitem relacionar fenómenos percebidos de forma diferentes [vide Fenomenologia: “intersubjectividade”]. A esta capacidade de relacionação dos fenómenos percebidos subjectivamente [relativisticamente], consiste a Razão. Portanto, tudo aquilo que “é relativo” só o é na ausência da Razão, isto é, o relativismo entendido como sendo desprovido de uma super-estrutura que o regule, é irracional.

De certa maneira, um filodoxo é um céptico em relação a todas as ideias excepto em relação às suas próprias ideias; o filósofo é um céptico em relação às ideias dos outros e em relação às suas próprias ideias, mas não duvida que as respostas às perguntas indicam o caminho que conduz à verdade.

http://espectivas.wordpress.com/2009/03/23/filodoxia-1/

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