sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A evolução degenerativa do Homem

Escrito por Orlando Braga | 27 Setembro 2012
Artigos - Cultura

“Enquanto os media produzem o baixo cretinismo, a universidade produz o alto cretinismo. (…)
Aproximamo-nos de uma mutação espantosa no conhecimento: este está cada vez menos preparado para ser refletido e discutido pelos espíritos humanos, e cada vez mais preparado para ser incorporado nas memórias informacionais e manipuladas pelos poderes anônimos, nomeadamente os Estados.

Ora, esta nova, maciça e prodigiosa ignorância, é ela mesmo ignorada pelos sábios. Estes, que não dominam, praticamente, as consequências das suas descobertas, também não controlam intelectualmente o sentido e a natureza da sua pesquisa.”

Edgar Morin, “Introdução ao Pensamento Complexo”, 1990, pág. 18)

Antes que me comecem a insultar em pensamento, chamando-me de “fascista, reaccionário, anti-ciência, obscurantista, ‘homófobo’, nazi, hominídeo das cavernas e troglodita actual”, e outros adjectivos próprios de universitários, convém dizer que Edgar Morin é de esquerda e que pertenceu ao Partido Comunista francês.

Edgar Morin não o diz no livro, porque dizê-lo seria reconhecer explicitamente os seus próprios erros passados; mas reconhece implicitamente os erros da mundividência da sua juventude. Ou seja, a verdade é que o Iluminismo começou por ser a imposição do império da subjetividade através do “Cogito” de Descartes, para descambar hoje na subjetividade como meio ou instrumento da sua própria anulação e erradicação.

O paradoxo da atualidade é este: o subjetivismo anula e erradica a subjetividade, porque esta última implica a existência da intersubjetividade que o subjetivismo, se não proíbe, pelo menos condena. O subjetivismo passou a ser um “ismo”: uma para-ideologia política intrinsecamente ligada a ideologias totalitárias (por exemplo, Bloco de Esquerda. N. do E.: de Portugal).

A supremacia ideológica actual da hiper-autonomia do indivíduo, e a subjetividade do indivíduo vista — hoje — como um princípio de igualdade social (subjetivismo) são apenas e só duas das muitas facetas desta “nova, maciça e prodigiosa ignorância”, ignorada pelos sábios.

Ao contrário do que é propalado pelo baixo cretinismo dos me®dia e pelo alto cretinismo da universidade, o Homem não progrediu: como é óbvio, e como sempre esteve presente em todas as culturas antropológicas em todo o mundo e desde há milênios — o Homem degenerou e vem degenerando. A superioridade dos deuses das culturas arcaicas e primitivas, nada mais são do que o reconhecimento, refletido em todas as culturas antropológicas, do fato de que o Homem degenerou.

Com o Iluminismo e com o darwinismo, esta percepção axiomática milenar da degeneração do Homem, foi invertida.

O Homem passou a evoluir. E a evolução do Homem — no sentido de “progresso” — passou a ser uma verdadeira lei da natureza, bem à moda da ciência. O Homem passou a estar condenado a evoluir. Mesmo que não quisesse, o Homem evoluía. Evoluía sempre. Vieram os massacres inomináveis de centenas de milhões de inocentes do século XX, mas o Homem continuou a evoluir. Vivemos hoje numa sociedade sacrificial em que milhões de seres humanos são occisus in utero; mas continuamos inexoravelmente a evoluir. E acreditando na evolução inquestionável do Homem, os “sábios” ignoram a sua própria ignorância.



Orlando Braga edita o blog Perspectivas –
http://espectivas.wordpress.com

http://www.midiasemmascara.org/artigos/cultura/13447-a-evolucao-degenerativa-do-homem.html

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