domingo, 16 de setembro de 2012


Quem é Aleksandr Dugin?

ESCRITO POR MONTREAL REVIEW E BLOG O MARXISMO CULTURAL | 10 SETEMBRO 2012
ARTIGOS - GLOBALISMO

"O que foi, isso é o que há-de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer: de modo que nada há novo debaixo do sol."
Eclesiastes 2, 9.


Na edição de inverno da revista "Azure Magazine" (2009, No. 35), Yigal Liverant faz uma análise penetrante da Rússia contemporânea ao mesmo tempo que traça a vida intelectual e a ascensão política Aleksandr Dugin - influente populista russo, autor de 16 livros de filosofia e política, proponente do autoritarismo, imperialismo russo, suspeição em torno da democracia liberal, e guerra ao Ocidente.

A escolha de Liverant por Dugin como a imagem coletiva das tendências intelectuais e políticas da Rússia não foi acidental. Como afirma Liverant, Dugin e a sua filosofia não são "um episódio insignificante da história intelectual russa; pelo contrário, ela reflete a tendência dominante da cultura e política russa atual. Se nós queremos entender o zeitgeist que prevalece na Rússia de hoje, é essencial nós nos familiarizarmos com este pensador que expressa os sentimentos mais íntimos de muitos dos seus conterrâneos e dos líderes do país."

Liverant explica o aparecimento de Dugin na vida política e pública da Rússia como resultado do colapso da União Soviética. A euforia que se seguiu após a queda do comunismo, diz Liverant, foi rapidamente superada pelo decepção, insegurança e desespero. Para muitos russos, o alcance global e o poder da URSS eram uma fonte de orgulho que, durante uma década, transformou-se em desespero e humilhação. A Rússia dos anos 1990 nada mais foi que uma sombra do "Império do Mal" que havia sido.

Durante os anos 1990, e início do novo século, o sentimento de tragédia nacional e decadência mantido pelos russos foi adicionalmente agravado pelas ações militares dos americanos sobre os seus aliados - Sérvia e Iraque - que demonstraram uma profunda falta de respeito pelo Kremlin.

A humilhação, diz Liverant, resultou num nacionalismo feroz, direccionado não só às antigas repúblicas da extinta URSS - Ucrânia e Estados Bálticos - mas também às minorias étnicas, aos judeus e ao Ocidente.

"Sobrepujados pela confusão, frustração e nostalgia pela sua antiga glória, a Rússia era um terreno fértil para a xenofobia e descontentamento nacionalista" escreve Liverant. Este ambiente causou o aparecimento de movimentos radicais e de ativistas, sendo o mais talentoso e mais brilhante deles, segundo Liverant, Aleksandr Dugin.

Místico, fascista, nacionalista russo e imperialista, seguidor do filósofo francês René Guénon, Trubetskoy e Gumilev, Dugin encontrou terreno fértil para as suas ideias e aspirações políticas sob o regime de Vladimir Putin.

Combinando a teoria da "ethnoses" de Gumilev, segundo a qual a Rússia é um super-ethnos, criado a partir da síntese de eslavos, mongóis, tártaros, fino-húngaros, e outros pequenos grupos étnicos, com outras teorias geopolíticas, Dugin vê a Rússia como um poder euroasiático em ascensão. Os seus sonhos em torno do seu místico "nacional-bolchevismo” (nome que ele deu à sua ideologia) receberam popularidade que coincidiram com o renovado sentido de progresso na Rússia, atingido durante a liderança autoritária de Putin.

"Aleksandr Dugin tem todos os motivos para se sentir profundamente satisfeito", termina assim o ensaio de Yigal Liverant. Perante os seus olhos, a ideologia que ele desenvolveu sob o nome de "tradicionalismo", "nacional-bolchevismo" e "euroasianismo", está a tornar-se a linha oficial do governo russo. Ele [Yigal] está perfeitamente certo em afirmar que "Putin está a tornar-se cada vez mais como Dugin."

Este outrora obscuro intelectual é, agora, o filófoso-chefe do "centro radical." E embora a glorioso nação russa esteja a marchar segundo a sua música, nós seremos prudentes em recordar as palavras de Isaiah Berlin - pensador que se encontra virtualmente no lado oposto a Dugin em practicamente todos os pontos - que nos avisou afirmando que "ideias que foram nutridas na quietude dos estudos dum professor podem destruir uma civilização."



Da The Montreal Review – Leia o artigo de Yigal Ligerant na Azure Online.

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