segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Ensino ou educacao?
A educação brasileira a partir dos anos 90 é principalmente um reflexo dos pensamentos sociológicos do século XX (que por sua vez seguem uma agenda na tradição de Gramsci e Althusser) e da filosofia educacional de Paulo Freire.

Isso significa que a educação foi se fundindo ao Estado como um “aparelho ideológico”, sob a máscara da socialização do conhecimento. No fundo não passa de uma obrigação à educação em nome da correção de problemas sociais que, a princípio, são atribuídos ao elitismo gerado por métodos antigos de educação.

A política estabelecida é a da igualdade, onde todos tem o direito , ou melhor dizendo, o dever de serem educados devidamente, sendo que este ‘devidamente’ na verdade é apenas uma metáfora às avessas ao programa instituído pelo MEC e outros órgãos educacionais.

Em nome de uma revolução educacional, e da eficácia da mesma, se esqueceram que ensinar é diferente de educar, preferindo aquele, que coloca mais alunos nas universidades e faz a manutenção da mão de obra lutando pelo salário mínimo, do que este, que forma cidadãos conscientes e ativos per se.

Numa paralaxe cognitiva¹, a educação liberal nos moldes do desenvolvimento ético perante a auto-consciência do indivíduo acaba sendo rotulada de maligna, sendo que as bases da educação liberal eram justamente contrárias a um autoritarismo, como apresenta Mortimer Adler ao dizer que “a educação liberal percebe o indivíduo como porta de acesso ao todo, ou o ato constituindo a potência”.

No inverso, sob influência das ciências sociais, a sociedade é o ponto de partida e o indivíduo fica em segundo plano. Se esqueceram também que a sociedade é constituída de indivíduos, e não o contrário. Isso acaba afetando também, propositalmente, a questão da família na relação com a escola. Quando esta passa a ser apenas um aparelho e o aluno o simulacro da realidade social, ele não pode estar com problema, pois isso seria responsabilizar ele pelos defeitos da sociedade. Se faz então como se faz com a TV quando ela pifa, a frustração é descontada com chutes e pontapés, e o professor sendo o elo mais fraco no aparelho é quem mais apanha.

Se afastando deste esquema fica claro que o professor, que depois reclama, é quem se colocou nesta situação. Análogo às políticas estatais de soberania econômica do passado (e de alguns países que ainda acreditam no sonho do comunismo pleno), o sistema tende a se auto-sabotar. Isso é notório ao vermos as estatísticas que apontam que cada vez menos universitários querem ser professores. Os recentes investimentos do setor privado na educação são também formas de manutenção, um pouco estranhas aos olhos destreinados, deste sistema.

As políticas esquerdistas que dominam o país desde os anos 90 já perceberam que o mercado não é um vilão frente aos seus planos, mas o seu principal aliado. O sonho de ascensão social é o que motiva o povo em geral a continuar acreditando cegamente no sonho de uma revolução que não passa de empulhação e esquecerem que a única “revolução” possível é a individual, da educação em busca de uma auto-consciência.

Tanto é verdade que este mercado é útil a agenda política da esquerda que a principal propaganda daquele é a tecnologia, e mais uma vez, em nome da igualdade, esta está mais e mais sendo oferecida ao povo, que sonha com os produtos de ponta e para serem estimulados a isso estão cada vez mais recebendo os mesmos em doses homeopáticas nas escolas e universidades, tudo isso em nome da educação, com o discurso de que, se não pode educá-los, se junte a eles e façam shows multimídias para explicar como Cabral chegou aqui com as suas caravelas.

Adendo: A recente proibição do home-schooling², dizendo que permitir esta prática abriria portas a falsificações e favoreceria ao trabalho infantil, é mais uma evidência que corrobora esta visão sobre a evolução da educação no Brasil a partir dos anos 90. O MEC pouco está interessado na educação dos indivíduos, mas muito interessado que todos sigam a sua ‘cartilha do bem’. Parodiando os pós-relativistas prodígios que se instalam em sofás de DCE’s por todo o Brasil: bem para quem?

1 – definição de “paralaxe cognitiva” pelo filósofo Olavo de Carvalho:
http://www.youtube.com/watch?v=EjaTyPbVxog

2 – por definição da Lei brasileira: “ensino que é leccionado, no domicílio do aluno, por um familiar ou por pessoa que com ele habite”. Este tipo de ensino é proibido no Brasil e sua escolha pelos pais pode ser considerada “abandono intelectual”.

Texto de Ismael Alberto Schonhorst

http://revistavilanova.com/ensino-ou-educacao/

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